Bom Gourmet
Sucesso no TikTok, matchá conquistou o Brasil e ganha protagonismo em Curitiba em 2025
O pó verde de sabor marcante e textura cremosa, que há séculos acompanha monges e samurais no Japão, agora ocupa lugar de destaque nas xícaras e cardápios brasileiros. O matchá, chá feito a partir da moagem de folhas jovens da Camellia sinensis, ganhou o TikTok. Na rede favorita da geração Z, a bebida é tendência e acumulava até dezembro de 2025 mais de 3,5 milhões de conteúdos com hashtags relacionadas a ela.
Do mundo virtual para o real, a tendência online faz o consumo de matchá crescer tanto na forma de lattes e sobremesas quanto em experiências gastronômicas. No Brasil, o mercado da bebida movimentou cerca de US$ 24,5 milhões, segundo dados da Grand View Research. A expectativa é atingir US$ 36,1 milhões até 2030.
A brasileira Thaísa Meraki, que vive no Japão há dez anos e foi a primeira mulher estrangeira a trabalhar na casa de chá Ippodo – uma das mais tradicionais do país, que acumula mais de 300 anos de história –, observa que o matchá passou de nicho gourmet a fenômeno cultural. “O TikTok popularizou o matcha latte e atraiu novos públicos. Hoje, muitas cafeterias e marcas de chocolate no Brasil já incorporam o ingrediente em suas criações”, comenta.
Cerimônia do chá no Japão e uso culinário no Ocidente, como apreciar o matchá
O matchá pode variar bastante em sabor, cor e intensidade conforme sua qualidade e finalidade. O chamado matchá cerimonial é o mais nobre, de uso tradicional na cerimônia do chá japonesa: tem sabor delicado, textura aveludada e coloração verde vibrante. Já o premium preserva características sensoriais sofisticadas, mas costuma ser usado em bebidas e preparações gastronômicas. Há ainda o matchá culinário, de perfil mais intenso e amargo, ideal para receitas como bolos, chocolates e pães.

“Essas diferenças estão ligadas tanto ao processo de cultivo, fermentação e moagem quanto ao terroir das plantações de chá. É mais ou menos o que acontece com o café”, conta Thaísa.
No Japão, no entanto, o chá mantém raízes muito mais profundas. Embora essa dimensão simbólica ainda não seja plenamente percebida no Ocidente, Thaísa acredita que a popularização abre espaço para novas formas de consumo e novos significados. “No Brasil, a bebida está muito ligada ao bem-estar físico e às tendências gastronômicas. Já no Japão, ela é parte de um ritual que valoriza o silêncio, a contemplação e o respeito ao momento presente”, diz.
O matchá exige alguns cuidados para revelar todo o seu potencial. Thaísa também é autora do e-book Guia Definitivo do Matchá e reforça que a simplicidade é fundamental. “Não é preciso ser ortodoxo, mas alguns pontos são essenciais para não estragar o chá”, explica.
Marca curitibana de chocolates dedicou mês à bebida: "primo espiritual do cacau"

Aproveitando a popularização do produto, a Utopia Tropical — marca curitibana de chocolates bean to bar criada pelo suíço Julian Caron Lys — decidiu mergulhar no universo do matchá. O destaque é a barra de chocolate branco com matchá cerimonial, feita com manteiga de cacau amazônica e ilustrada pela artista Monique Pak.
O cardápio da cafeteria da marca também ganhou novas bebidas desenvolvidas em parceria com a Namu Matcha, além de workshops sensoriais e apresentações musicais. Em agosto deste ano, a marca realizou um mês inteiro de programação dedicada à bebida. Foi o "Agosto Verde”, que reuniu lançamentos, oficinas e até um campeonato de latte art com matchá, o primeiro do gênero no Brasil.
Os produtos à base do chá permanecem disponíveis no cardápio da Utopia Tropical. “O matchá é como um primo espiritual do cacau: ambos são ritualísticos, conectam com a natureza e convidam à pausa. A ideia é expandir o universo sensorial do chocolate e criar pontes entre sabores e ideias”, afirma Lys.


