Bom Gourmet

Doces memórias: os sabores que fazem do circo uma viagem nostálgica

Anderson Hartmann, com Laura Tedesco Bressan
07/06/2025 17:14
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Doces, pipoca, maçã do amor e outras delícias que transformam a gastronomia do circo em uma verdadeira viagem pelas memórias da infância.

Tem lugares que a gente visita com o corpo. Outros, com o paladar. O circo, com sorte, nos leva pelos dois caminhos. E a jornada começa antes da primeira acrobacia ou da luz se apagar: ela começa no cheiro de pipoca no ar, na fila do algodão doce, na textura crocante da maçã do amor ou no calor do doce de leite ou chocolate escorrendo de um churros recém-preparado. Em tempos de vida acelerada, a gastronomia do circo segue oferecendo o que talvez seja nosso luxo mais urgente: uma pausa doce e colorida, onde o sabor é memória — e também nostalgia.
Se o circo mudou — e mudou mesmo, com LED, drones e trilhas sonoras de espetáculo internacional —, o que pulsa sob a lona continua sendo o encantamento. E ele vem, muitas vezes, de forma silenciosa e mastigável. Pipocas estalando no saco de papel, espirais de açúcar coladas aos dedos, batatas crocantes servidas em potinhos, morangos mergulhados em chocolate como se saídos de um livro de histórias. Há algo de profundamente reconfortante nesse roteiro não escrito, que nos leva direto ao território da infância.
O Mirage Circus, do Marcos Frota, por exemplo, em cartaz na capital gaúcha, é um bom retrato desse novo tempo circense: tecnologia, produção refinada, um palhaço contemporâneo que parece mestre de cerimônias, artista de stand up comedy e ator de musical ao mesmo tempo. Mas ainda que o show seja moderno, é no pé da arquibancada que está o primeiro ato: aquele que a gente sente com a boca e guarda no coração.
Ali, entre as tendas, os clássicos estão todos presentes. Pipoca, salgada ou doce, feita na hora. Algodão doce rosa ou azul, em espirais que se desfazem na língua. Maçã do amor, brilhante, rígida e doce como as lembranças de uma tarde no parque. Churros frescos, cheios de recheio, cobertos por açúcar e canela. Batata frita estalando, cachorro-quente com duas salsichas e batata palha, crepes fumegantes, moranguinhos cobertos de chocolate no palito, com cara de sobremesa feita pela avó. Tudo essencial.
"A pipoca do Mirage Circus é a pipoca mais gostosa do Brasil! Porque eu experimento antes de começar a vender. E o circo não pode ficar fora dessa revolução tecnológica que o planeta está passando. Agora, é muito bonito a gente pensar que, em plena era da inteligência artificial, ainda tem um circo com as brincadeiras, as comidas, com os palhaços, com o trapézio, com esse encanto inteiro que o circo provoca a cada vez que a gente chega. Então, juntar a tecnologia com o talento é o nosso desafio", garante Marcos Frota - a alma por trás do espetáculo que une tradição, emoção e muitos sabores. 
Ator, visionário e apaixonado pelo circo. Marcos Frota é a alma por trás do espetáculo que une tradição, emoção e muitos sabores.
Cada mordida é uma viagem sem aviso prévio: de volta à infância, aos domingos despreocupados, à alegria sem filtro. E essa é talvez a maior magia da gastronomia do circo: ela não apenas alimenta. Ela abriga. Ela lembra que o tempo passa, mas o sabor das coisas boas continua exatamente no mesmo lugar onde a gente deixou.
No fim das contas, pode haver drones no ar, luzes que dançam e performances tecnológicas de tirar o fôlego. Mas tudo isso é ainda mais potente quando antecedido por um momento simples, quase sagrado: o da primeira pipoca quentinha entre as mãos.
Talvez a vida adulta não precise ser tão dura assim. Talvez a gente só precise, de vez em quando, de um circo. E se permitir comer um cachorro-quente ou ter um pouco de açúcar no coração.
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