Bom Gourmet

Do Sul do mundo para o topo: chefs brasileiros revelam como a cozinha latino-americana virou tendência global

Anderson Hartmann, com Laura Tedesco Bressan
11/06/2025 10:35
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Amazônia no prato, mundo à mesa. Nesta criação, Manu Buffara combina o açaí com ingredientes brasileiros em uma releitura contemporânea que valoriza território, biodiversidade e afeto. Foto: Rubens Kato

Com ingredientes ancestrais, sotaque local e coragem para reinventar tradições, a gastronomia latino-americana ultrapassou as fronteiras do continente e conquistou o paladar do mundo. E por trás dessa virada estão chefs que carregam em seus pratos a força do território, da biodiversidade e da memória afetiva.
Para entender como esse movimento ganhou corpo — e respeito — nos grandes centros gastronômicos, o Bom Gourmet conversou com dois nomes em trajetórias distintas, mas complementares. De Curitiba, Manu Buffara, premiada chef à frente do Manu, reflete sobre expansão internacional com propósito. Do Piemonte, Robert Schoeffel, gaúcho radicado na Itália, conta como leva o sabor da infância e da cozinha do Sul do Brasil à alta gastronomia europeia. Suas histórias revelam que cozinhar, mais do que um ofício, é um ato de pertencimento e transformação.

Vozes que atravessam fronteiras

A seguir, Manu Buffara e Robert Schoeffel refletem sobre suas vivências, influências e os caminhos que ajudaram a projetar a gastronomia latino-americana para o mundo. Entre memória, técnica e pertencimento, eles compartilham o que torna essa cozinha tão única — e cada vez mais relevante.
De Curitiba, Manu Buffara, premiada chef à frente do Manu, reflete sobre expansão internacional com propósito.
Manu, o que te motivou a expandir sua atuação para o exterior? É uma expansão de marca ou você enxerga como uma transformação pessoal e profissional?
Manu Buffara: Essa expansão é, antes de tudo, uma transformação pessoal e profissional. Não encaro como uma simples expansão de marca, mas como uma oportunidade de compartilhar a filosofia que desenvolvemos no Brasil, baseada em sustentabilidade, conexão com os produtores e respeito ao território. É um movimento que amplia meu olhar e fortalece a ideia de que a gastronomia pode ser uma poderosa ferramenta de diálogo e transformação, onde quer que estejamos.
Robert, como sua formação no Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul, influencia sua cozinha hoje, na Itália?
Robert Schoeffel: Comecei minha trajetória na Europa descascando caixas de ervilhas em um restaurante duas estrelas Michelin. Me disseram: 'Você precisa mostrar que não vai desistir'. E eu fiquei.
Quais suas expectativas em relação ao público internacional?
Manu Buffara: Acredito na curiosidade e na abertura. As pessoas querem autenticidade, entender as histórias por trás dos pratos. Minha expectativa é que o público esteja disposto a se conectar com os sabores e os valores que trazemos.
Robert, como os europeus veem hoje a gastronomia da América Latina?
Robert Schoeffel: Está mudando. Há curiosidade. Alguns chefs italianos, inclusive estrelados, já exploram ingredientes nossos como tapioca, polvilho, banana-da-terra. Ainda somos associados à feijoada e à caipirinha, mas o interesse está crescendo. Aos poucos, vamos mostrando nossa complexidade.
Manu, sua cozinha parte do terroir brasileiro. Como isso se traduz fora do país?
Manu Buffara: Não levo uma lista de ingredientes, levo uma filosofia de escuta e respeito ao território. Onde quer que eu esteja, busco entender os ciclos naturais, os produtores locais, e crio a partir desse encontro. A essência segue a mesma.
Do Piemonte, Robert Schoeffel, gaúcho radicado na Itália, conta como leva o sabor da infância e da cozinha do Sul do Brasil à alta gastronomia europeia.
Robert, o que da América do Sul você incorpora no seu trabalho?
Robert Schoeffel: Mais do que ingredientes, levo o tempero emocional: sabor consistente, alegria, criatividade. Temos um jeito próprio de lidar com a cozinha. Flexibilidade, intuição e entrega. Isso nos diferencia.
Como vocês veem a valorização da gastronomia latino-americana?
Manu Buffara: Com muito orgulho. Nossa força vem das histórias de resistência, da biodiversidade, da sustentabilidade. O mundo tem muito a aprender com a América Latina.
Robert Schoeffel: É uma tendência consistente. O D.O.M e o Central abriram caminho. Hoje, mais chefs acreditam em nossa identidade e nos nossos ingredientes. E o mundo começa a olhar para isso.
Que conselho vocês dariam a jovens chefs latino-americanos?
Manu Buffara: Conheça seu território antes de querer conquistar o mundo. Autenticidade importa. E manter-se aberto, curioso e comprometido com sua essência é o que faz a diferença.
Robert Schoeffel: É preciso mostrar capacidade, vontade, paciência. Cozinhar fora exige resiliência. Nosso diferencial não está só nas técnicas, mas na paixão e na entrega.
Enquanto o mundo descobre sabores e histórias da América Latina, chefs como Manu e Robert mostram que cozinhar é também um ato político, afetivo e transformador. Com raízes fincadas no território e olhos atentos ao mundo, eles ajudam a construir um novo capítulo da gastronomia global — com sotaque latino, identidade e sabor.
No coração do Piemonte, o Villa Fontana Relais Suite & Spa é mais do que um refúgio entre vinhedos — é onde o chef brasileiro Robert Schoeffel transforma memórias gaúchas em alta gastronomia italiana.

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