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Cultura cervejeira do Paraná ganha força com prêmios, tradição e inovação

Beatriz Ponte
13/06/2025 16:10
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Com prêmios internacionais, aumento na produção e destaque nacional em número de cervejarias, a cultura cervejeira do Paraná ganha força e se consolida como referência no país. / Créditos: Canva Pro

O Paraná vive um momento especial no universo cervejeiro. Seja pelo destaque em premiações internacionais, pelo crescimento das fábricas ou pelos recordes na produção de cevada, a bebida vem ocupando um espaço de destaque na cultura, na economia e no turismo do Estado.
Segundo dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, a expectativa é que o Paraná se consolide como líder nacional na produção de cevada, projetando para este ano a maior área plantada de sua história, com 94,6 mil hectares. O número representa um salto de 18% em relação a 2024.
Esse crescimento se conecta diretamente com a expansão da cultura cervejeira paranaense. De acordo com o Anuário da Cerveja 2024, do Sindicato Nacional das Indústrias da Cerveja (SINDICERV), o estado ocupa o quinto lugar no número de cervejarias registradas no país, com 171. Além disso, o Paraná também se destacou em densidade cervejeira, com uma cervejaria para cada 66,9 mil habitantes. A média nacional foi de 1 para cada 109,9 mil habitantes.
A força da produção do setor reflete nas conquistas internacionais. Em Foz do Iguaçu, a 227 Craft Beer foi campeã em duas categorias na 16º World Beer Cup, campeonato que é considerado a “Copa do Mundo da Cerveja”. Nesta edição, foram 8375 rótulos inscritos, oriundos de 49 países. Ao todo, foram 334 rótulos premiados em 112 categorias. As vencedoras foram a “Canoa Quebrada”, que ficou em primeiro lugar na categoria Gose; e a “Quadruppel 227”, que venceu na categoria  Belgian-Style Strong Specialty Ale.
Agenor Maccari, fundador da 277 Craft Beer, destaca que a vitória representa retornos importantes, pois reforçam o posicionamento da cultura local, ponto fundamental em seu negócio, que tem como foco trazer a  experiência do turismo de gastronomia e bebidas para dentro do Estado, incentivando as produções paranaenses.
Agenor e Lauren Maccari, casal fundador da 277 Craft Beer de Foz do Iguaçu. Crédito: Acervo pessoal.
Agenor e Lauren Maccari, casal fundador da 277 Craft Beer de Foz do Iguaçu. Crédito: Acervo pessoal.
Para ele, o reconhecimento vai além do troféu. "É uma chancela para a cultura cervejeira do Paraná. Mostra que podemos fazer cerveja de excelência até no 'fim da linha'”, diz o engenheiro agrônomo, com mestrado e doutorado na área de bebidas, brincando com o fato de que a BR-277, que cruza o estado, do Porto de Paranaguá até a Ponte da Amizade, na divisa de Foz do Iguaçu com o Paraguai.
"Curitiba é referência em cerveja. Mas a gente quis mostrar que é possível fazer algo de altíssima qualidade lá no fim da BR-277. E conseguimos entregar uma cerveja premiada, feita com fruta, com pesquisa, com identidade local", conta.

Dos barris de cachaça para as torneiras da 277

Apesar da fama recente com a cervejaria, a trajetória de Maccari no universo das bebidas começou duas décadas antes, com a fundação da cachaçaria Agroecológica Marumbi, responsável pelos rótulos Porto Morretes e Novo Fogo. A expertise com madeiras brasileiras, essencial para a maturação da cachaça, foi também o ponto de partida para a experimentação na cervejaria — incluindo a premiada “Barba de Serpente”, uma lager maturada em barris de ex-cachaça.
Antes das torneiras da 277, foram os alambiques da cachaçaria que colocaram o nome de Maccari no mapa. Com sede em Morretes e operação internacional, a Agroecológica Marumbi se consolidou como referência em cachaças premium, com produtos como a Porto Morretes e a Novo Fogo — esta voltada à exportação para mais de 25 países. A marca investe em variações com barris de castanheira, amburana, araribá e até infusões tropicais, como a Passion Fruit Cachaça, criada a pedido da dupla de músicos americanos Sofi Tukke, que também são investidores.

Curitiba e seu lugar de destaque na cultura cervejeira nacional

A capital paranaense também é referência quando o assunto é cerveja. Em março, a cervejaria WamaHoY foi a campeã do 13º Concurso Brasileiro de Cerveja, com o chopp WaMaHoY Golden Ale. A competição foi promovida pela Prefeitura Municipal de Blumenau, Parque Vila Germânica e Escola Superior de Cerveja e Malte.
Dimitry Kozemjakin Junior, sócio e mestre cervejeiro da WaMaHoY, de Curitiba. Crédito: Divulgação.
Dimitry Kozemjakin Junior, sócio e mestre cervejeiro da WaMaHoY, de Curitiba. Crédito: Divulgação.
Com um espaço discreto no bairro Prado Velho, perto da PUCPR, a cervejaria do mestre cervejeiro Dimitry Kozemjakin Junior e Josue Kalinowski começou a produção das cervejas artesanais em 2019, com projeto inicial de fornecer as bebidas para bares especializados da cidade. Com o tempo, passou a atender também o consumidor final, oferecendo a experiência de beber cerveja “direto da fonte”, servindo o chopp diretamente dos barris, que ficam armazenados ao lado dos tanques de fermentação.
Quando se trata de referência curitibana, a Maniacs Brewing Co. é uma influência marcante. A trajetória começou em 2005, com importações de rótulos, e evoluiu para uma atuação sólida na distribuição e desenvolvimento de receitas paranaenses que circulam pelo país, ao mesmo tempo que atuam como ponte para trazer rótulos de diversas regiões do Brasil a Curitiba. 
No início das atividades, como relembra o proprietário Iron Mendes, o mercado ainda era pouco desenvolvido e havia poucas cervejarias artesanais em operação. As importações tiveram um papel importante nesse contexto inicial, ajudando a estabelecer referências de qualidade e despertando o interesse do público por novos estilos. Esse movimento foi essencial para ampliar o repertório do consumidor e incentivar o surgimento de novos negócios, fortalecendo a cena cervejeira local que hoje se destaca nacionalmente.
Agenor Maccari e Iron Mendes, proprietário da Maniacs, em Curitiba. Crédito: Acervo pessoal.
Agenor Maccari e Iron Mendes, proprietário da Maniacs, em Curitiba. Crédito: Acervo pessoal.
“É bem gostoso trabalhar com cervejas artesanais, mas é bem desafiador também. Nós competimos com uma das maiores indústrias do mundo. E como não temos o mesmo poder de mídia, é bem difícil explicar porque uma cerveja artesanal tem um preço diferencial de uma cerveja comercial”, complementa Iron.
Outro nome indispensável quando se fala em tradição e inovação no universo cervejeiro curitibano é a Bodebrown, a primeira cervejaria escola do Brasil. Fundada em 2009 com o propósito de promover a difusão e fabricação da cerveja artesanal, é hoje uma das cervejarias mais premiadas da América do Sul, sendo pioneira no país em estilos como Imperial Ipa, Wee Heavy e Black Rye Ipa. Outro marco importante da Bodebrown é a parceria com a banda Iron Maiden, sendo a escolhida para a produção da bebida da banda no Brasil.
Com uma proposta mais recente, mas igualmente relevante, a Joy Project Brewing vem conquistando espaço e reconhecimento na cena local. O que começou como um hobby nos fundos de uma casa no bairro Xaxim, no ano de 2018, rapidamente se transformou em uma cervejaria autoral, com mais de 250 rótulos próprios que exploram diversos estilos e colecionando prêmios. Hoje, além do projeto de criação, a marca atua no mesmo bairro com o Bar da Fábrica, onde ocorrem as operações de produção e comercialização de seus rótulos.
Everton Delfino, Diego Nery e Paulo Matulle, sócios da Joy Project Brewing. Crédito: Johanne Lou.
Everton Delfino, Diego Nery e Paulo Matulle, sócios da Joy Project Brewing. Crédito: Johanne Lou.

Cerveja como produto turístico do Estado

Para o secretário estadual de Turismo, Leonardo Paranhos, o setor é estratégico para o fortalecimento das tradições e do turismo paranaense. “Sobre a cerveja, nós estamos fomentando a tradição, não só a Secretaria de Turismo, como a Invest Paraná e alguns setores dentro do Estado, porque isso gera riqueza, trabalho, renda e atração de turistas”, comenta.
Ele afirma que o governo trabalha para certificar a cerveja artesanal — assim como outros produções locais — como produtos turísticos de relevância. Uma das ações previstas é o Festival da Primavera, marcado para setembro, um encontro cultural e gastronômico que busca dar visibilidade e impulso aos itens regionais.

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