Não foi um brasileiro que colocou cream cheese no sushi - a invenção é coisa dos norte-americanos -, mas a mistura certamente ajudou a popularizar a comida japonesa no Brasil. E, claro, foi um convite à criatividade culinária única do brasileiro. O resto é história. Tem sushi com creme de avelã, versões com morango, goiabada e até combinações com bacon, queijo e salmão.

O jeito brasileiro de fazer e consumir comida japonesa está longe do preparo tradicional. Para começo de conversa, no berço dos sushis, naguiris e sashimis, a estrela original é o atum. Por aqui, o salmão comanda. A moda, aliás, foi lançada pela Noruega.

Maior produtora mundial desse pescado, primeiro a Noruega convenceu os japoneses a consumir o salmão cru. Depois, o resto do mundo. No Brasil, o peixe caiu no gosto do povo. Tanto que hoje há casas de comida japonesa especializadas em servir pratos apenas com salmão. No nosso caso, vindo em sua maioria do Chile.

"A gente está indo para um caminho cada vez mais distante da culinária japonesa tradicional. Não é bem o que eu gosto de fazer, mas se você não tiver o salmão, o sushi com cream cheese ou o peixe maçaricado, você não vai ter vendas e vai falir", comenta o sushiman Thiago Augusto, que trabalha há mais de 20 anos na área.

Hoje, Augusto atua na cozinha da Tokom Fome. O cardápio da casa é a cara dessa cozinha japonesa com jeitinho brasileiro. Entre as opções no menu, sashimi de barriga de salmão maçaricado com azeite trufado e flor de sal; Jow com cream cheese, salmão e finalizado com geleia de pimenta; sushi de salmão com tomate seco, cream cheese e molho de maracuja; e uramaki com salmão e queijo derretido por cima.

Mais uma prova de que essas combinações nada tradicionais agradam ao brasileiro, a casa criada em 2021 - inicialmente apenas no delivery - é uma campeã de vendas no iFood. São quatro sushimans no turno da noite apenas para atender aos pedidos para entrega. O salão, aberto há dois meses, também conta com um bom movimento, segundo o proprietário Bruno Guariza.

Então, se seguir a tradição não é o forte dos brasileiros quando o assunto é a culinária japonesa, certamente a criatividade tupiniquim ajudou a popularizar sushis, sashimis e cia. por aqui. "Não sou adepto as versões contemporâneas, mas também não sou contra. Se não fosse a popularização do sushi através desses elementos, talvez a gastronomia japonesa não tivesse chegado a esse nível de altíssima qualidade. Espaço tem para todos", comenta o chef Kazuo Harada, do restaurante oriental Emy.

Mas há limite para as criações? Para Harada, o limite é o sabor. "Algo que foge completamente do padrão de sabor e frescor dos alimentos, assim como a busca pelo umami, não considero como culinária japonesa ", diz.

Tokom Fome: R. Mato Grosso, 615. Telefone: (41) 99575-0089

Emy by Kazuo:   Shopping Pátio Batel, Piso L1. Telefone: (41) 99149-6447