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“Nasci com uma pré-disposição para doces”, diz o chef Flávio Federico
Aos 47 anos, o consultor Flávio Federico é um dos confeiteiros mais conceituados do país. Neste mês de novembro completa 24 anos de carreira. Simpático e boa gente, o paulistano é um doce de pessoa! Além de seus doces que deliciam muita gente, ele adora lavar louça! Esse “gosto incomum” vem de criança. “Eu cobrava da minha mãe Cr$ 5 cruzeiros para lavar pratos e panelas. Como nasci com uma pré-disposição para doces, com o dinheiro, eu comprava balas e aqueles sucos que vinham em garrafinhas plásticas em forma de revólver e carrinho”, lembra.
Descendente de italianos, a família Federico estava sempre reunida para os almoços de domingos. As nonnas, tias e pais preparavam massas, doces e o menino rondava a cozinha. A primeira “aventura” foi aos 6 anos. “Minha mãe sempre dizia pra eu ficar longe do fogão, mas ela mostrava só a parte de cima. Um dia, quando saiu, eu usei o forno, que era parte de baixo. Coloquei uma frigideira e preparei salsichas com cenouras e tomates”, lembra Flávio, que, aos poucos, foi ajudando as avós e a mãe no preparo dos pratos.

Como o gosto pela culinária era apenas uma diversão, Flávio formou-se em Direito – profissão que nunca exerceu. Na faculdade, o inevitável: cozinhar para os amigos e preparar sobremesas – as preferidas dele. A partir daí, vieram as encomendas de bolos. Naquela época, começou a trabalhar também em uma metalúrgica, onde fez vários cursos de operador de máquinas. “Isso me ajudou e me ajuda muito até hoje. Várias ferramentas que uso na cozinha, eu mesmo criei para auxiliar na minha produção.”
Certo do rumo que queria seguir profissionalmente, buscou uma vaga em um hotel cinco estrelas. Foi lá que entendeu o que era produção em escala. Trabalhou em restaurantes e onde as sobremesas não eram boas, ele se oferecia para fazê-las.

Em 1999, Flávio foi para Grand Rapids, em Michigan (EUA) para fazer um curso de três meses com o chef francês Gilles Renusson. Quando voltou, foi trabalhar com Laurent Suaudeau; deu consultoria para o grupo Fasano, entre outros clientes. Em 2003, montou sua empresa, a “SóDoces”, para vender sobremesas para hotéis e restaurantes. Seu primeiro cliente foi o Fogo de Chão, o que lhe abriu muitas portas.
Quatro anos depois abriu a loja. A SóDoces foi um sucesso e recebeu diversos prêmios como o de melhor doce, melhor doceria, melhor macaron, melhor cannoli. Em 2009, mudou o nome da loja para Flávio Federico Dolci. Após dois anos, com a entrada de novos investidores, nova mudança de nome: I dolci di Flávio Federico. Em 2014, o confeiteiro vendeu a sua parte e decidiu se dedicar à consultoria para confeitarias, restaurantes, hotéis, cafés…E, para aqueles que querem provar suas guloseimas, por enquanto, só para os participantes dos cursos que dá pelo país.
O confeiteiro sempre defendeu a valorização dos produtos nacionais. No início dos anos 90, quando os “importados” eram mais valorizados, Flávio já fazia seus doces com cupuaçu, rapadura, cajá, cachaça e outros ingredientes que ninguém queria comer, por serem considerados ‘menos nobres’. “Isso me deu mais vontade de seguir em frente. E hoje sou lembrado por isso. Creio que fiz minha parte!”, observa.
Doce de Natal
Para o confeiteiro Flávio Federico, um prato obrigatório na ceia de Natal é o doce napolitano, struffoli. “Minha falecida avó preparava o doce apenas nessa época. Isso era sagrado. E hoje eu também ajo da mesma forma. É um doce incrível que me faz chorar quando preparo, pois sinto que ela está ali comigo”.