Bom Gourmet
Produtores da Bahia que só faziam cacau, agora apostam nos chocolates finos
ILHÉUS – Quase 30 anos depois da devastação das plantações pela vassoura-de-bruxa, os produtores de cacau da região de Ilhéus, no Sul da Bahia, se reinventaram para conquistar o mercado nacional.
Após as pioneiras Amma e Mendoá abrirem caminho, dezenas de novas pequenas marcas de chocolate de origem pipocaram na Bahia nos últimos anos. Hoje são 70 nomes produzindo chocolate feito com cacau fino na região.
Durante o Festival Internacional do Chocolate e Cacau 2018, que vai até sábado (22), em Ilhéus, 40 delas estavam presentes. Um recorde para o evento que é o maior do segmento no Brasil.
A maioria tem poucos anos, ou até meses de existência. Algumas já foram premiadas em concursos no exterior. Como a Baianí, marca criada pelo casal Tuta e Juliana Aquino neste ano, que ganhou medalha de prata no Academy of Chocolate, que aconteceu em Londres, em maio.
“Depois da vassoura, nossa fazenda ficou abandonada por 15 anos. Quando decidimos retornar, já voltamos com a ideia de agregar valor ao nosso cacau. São 400 hectares de fazenda, com 60 hectares de cacau. O chocolate levou um ano e meio de pesquisa e só tem seis meses de lançamento”, conta Juliana. O Baianí premiado é feito com um blend de Trinitários, com 70% de cacau.
A Baianí, assim como muitas outras marcas como a Modaka, Coroa Azul, Amado Cacau, Var e Mestiço seguem a máxima do tree-to-bar. Ou seja, produzem o chocolate da árvore até a barra.
O conceito significa plantar o cacau, colher, fermentar com cuidado e produzir o chocolate dentro das próprias fazendas. É cuidar de todo o processo envolvido na cadeia de produção do doce.
Juntos, 17 fazendeiros produtores de cacau do Sul da Bahia formaram uma associação. A maioria é neto ou bisneto de coronéis do cacau, que havia abandonado as plantações por causa da praga da vassoura-de-bruxa.
As histórias são semelhantes. A maioria decidiu produzir chocolate fino para agregar valor ao cacau, já que a venda por commodity não dava mais retorno do mesmo jeito de antes.
Patrícia Viana Lima, da Modaka, produz chocolate de origem orgânico. A certificação veio em 2012. Assim como outras da nova geração, a fábrica da Modaka é pequena. “Processamos 300 quilos de cacau por mês”, diz.
A Var foi uma das primeiras marcas da região a plantar diferentes qualidades de cacau isoladas em blocos para evitar a contaminação cruzada na fazenda Lajedo do Ouro, no município de Ibirataia. Com isso, produz um chocolate varietal. São cinco concentrações e três variedades.
“Ninguém escolhe vinho pelo nível alcoólico e sim pelas uvas. É o mesmo princípio que queremos implantar no chocolate”, explica Pedro Caetano Magalhães, proprietário da Var.
O Catombo tem uma amêndoa mais clara, por isso o chocolate tem um tom similar do ao leite. O sabor tem notas de amêndoas e frutas vermelhas. Já o Pará-Parazinho tem notas mais marcantes de chocolate, enquanto o Trinitário é mais adstringente.
A maioria das marcas vende seus chocolates no Rio e São Paulo em empórios e lojas especializadas. Poucas chegam no varejo. O Sul é coberto com uma ou outra que chega em algumas cidades, como a Coroa Azul que tem um ponto de venda em Florianópolis.
O projeto da associação agora é produzir cada vez mais cacau de qualidade para conquistar novos mercados, nacionais e internacionais.
*A jornalista viajou a convite da Chocolat Bahia
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