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O segredo do sucesso de Pedro Joanir Zonta; Leia entrevista com o dono dos supermercados Condor, rede completa 50 anos em 2024
"Eu gosto de trabalhar": Pedro Joanir Zonta, presidente da Rede Condor e do Grupo Zonta. Bom Gourmet/Bom Gourmet
É difícil sair de uma conversa com o empresário Pedro Joanir Zonta sem sentir que algumas pessoas realmente foram feitas para o mundo dos negócios. Hoje dono de uma rede de supermercados com quase 60 lojas no Paraná e em Santa Catarina e à frente do grupo empresarial Zonta, Joanir não concluiu o ensino fundamental. "Ou estudava, ou comia. Era uma questão de sobrevivência", conta com a simplicididade de quem não vê dificuldade no que faz.
"Administrar empresa é sempre igual. Você tem que olhar três coisas: faturamente, despesa e o lucro bruto. Essa é a rédea que você precisa ter o comando. É bem simples, não é complicado", explica o empresário, que faz o difícil parecer fácil - característica própria de quem entende bem do seu ofício.
Joanir recebeu o Bom Gourmet para um bate-papo no dia 20 de março em seu escritório no bairro Pinheirinho. A sala fica no segundo andar do supermercado Condor número um da rede. Inaugurada em 1978, a loja foi inteiramente reformada neste ano. A conversa, inclusive, ocorreu logo após a cerimônia de reinauguração, que marcou também o início das comemorações de 50 anos da tradicional rede de supermercados paranaense.
Essa história toda começou justamente no Pinheirinho, em 1974, com uma loja de 110 m² e cinco funcionários. Quando comprou seu primeiro mercadinho, Joanir nunca tinha feito compras naquele modelo. Era ainda do tempo da mercearia e da caderneta. Mas, na época, o jovem de 22 anos já farejava que o futuro estava ali.
Para aprender sobre seu novo negócio, passava diariamente no supermercado Jumbo - o que havia de mais moderno em Curitiba para o setor de supermercados na época. Comprava o que considerava mais interessante e usava emprestado o telefone do depósito da Frimesa - outra empresa paranaense - para fazer contato com os vendedores e trazer as novidades para o seu supermercado.
Esse pedacinho da história do empreendedor católico devoto, fã de automobilismo e extremamente família já dá pistas das características que seguem até hoje com Joanir Zonta. Sede por conhecimento, busca por inovação e visão de futuro estavam lá na década de 1970 e seguem até hoje. A diversificação dos negócios e a criação do Grupo Zonta são prova disso.
Hoje, além da rede Condor, o grupo soma 21 postos de gasolina, uma indústria de plásticos, 3 atacarejos, um shopping em Joinville e, recentemente, a Ouro Fino. O anúncio da compra da tradicional empresa paranaense de água mineral foi feito na noite dia 18 de março e faz parte dos planos de expansão e diversificação dos negócios encabeçado por Joanir já pensando na sucessão.
Confira a seguir a entrevista com Pedro Joanir Zonta ao Bom Gourmet.
Qual o conselho do senhor para quem está começando a empreender?
Trabalhar, trabalhar e trabalhar. E não deixar que os obstáculos que aparecem pela frente te façam parar. Tem uns que a gente passa por cima e outros que gente tem de dar a volta, contornar, porque são muito grandes. Mas sempre seguir em frente e não se deixar abalar por nada que acontece. Nesses meus 50 anos aconteceram muitas coisas que foram desanimadoras. Mas é um momento. Passa. Encontre força para superar e seguir em frente. E claro, ouvir os consumidores sempre.
E o consumidor tem sempre razão?
Ele sempre tem razão. Mas a gente tem de ver até onde pode fazer por ele. Porque existe um limite. O cliente pode reivindicar o que ele gostaria de ter, mas a gente tem um limite para atender. Existe um ponto de equlíbrio. Se eu passar dele, a empresa fica no prejuízo. Então, o cliente tem razão? Tem. Mas a gente tem a obrigação de não ultrapassar o limite que pode causar prejuízo e colocar a empresa em risco.
Antes da compra do primeiro supermercado, o senhor trabalhou com seu irmão no Umbará. Conta um pouco para nós desse Joanir pré-Condor?
Essa foi, na verdade, a grande oportunidade da minha vida. Meu irmão tinha um abatedouro de suínos, com fábrica de banha e linguiça, no Umbará. Ele pegou meu pai e eu de sócios. Então, era 50% dele, dele, 25% do meu pai e 25% eu. O meu começo foi isso. Trabalhamos até 1973 juntos. Mas veio a inspeção federal e ele precisou fechar. Como a propriedade era toda dele, abriu um açougue e eu fiquei sem emprego. Na época, já casado e com dois filhos, comprei um caminhão e comecei a puxar areia. Comprava no areal e vendia nas obras.
Como surgiu o negócio de supermercados?
Isso foi em março de 1974. Soube que o supermercado Biazi aqui no Pinheirinho, uma filial da rede de Santa Catarina, estava à venda. O dono pretendia seguir para o ramo de atacado. Eu já conhecia ele da época do abatedeouro. Ele me pediu 85 mil Cruzeiros pela loja e uma kombi. E o estoque, que seria no balanço, ele previa que daria cerca de 120 mil Cruzeiros. Eu não tinha esse dinheiro. Mas conversei com a minha família e eles se prontificaram a me empretar esse dinheiro. Então fiz a proposta: pagaria o estoque à vista e a instalação e a kombi em 10 parcelas de 8,5 mil Cruzeiros. Ele topou. Isso foi em 13 e março de 1973.
E o senhor entendia de supermercado naquela época?
Eu não entendia de supermercado, nunca tinha feito compra em um. Na época de solteiro, minha mãe fazia a notinha, eu entregava no armazém, ele preparava e entregava a compra. Uma vez por mês eu passava la e acertava a conta. Depois, eu casei, e minha esposa continuou no mesmo ritmo. De repente, supermercado. Engraçado, na época que comprei, minha esposa e eu andando no supermercado e ela me falou: como e que você vai cuidar dessa loja desse tamanho? Eu disse, em 90 dias essa loja vai estar do jeito que já vejo dentro da minha cabeça. Abria às 7h da manhã e fechava às 8h da noite. No intervalo do almoço, eu ia ver os concorrentes, o Jumbo na Kennedy, que já era um hipermercado.
Eu pegava o carro e ia lá ver a linha de produtos, a forma de exposição.... O que eu achava interessante, eu comprava uma embalagem. Isso para ter o telefone do fornecedor. No dia seguinte, eu ia ao depósito da Frimesa e eles me emprestavam o telefone do meio-dia a uma e meia da tarde, era o horário de almoço deles. Nesse horário, eu ligava para os fornecedores, comprava os produtos e colocava para vender. E assim, os clientes foram gostando das mudança que em fiz. Em menos de 90 dias já tinha conseguido mudar muita coisa. No mês de março a loja vendeu 135 mil Cruzeiros, 90 dias depois, 290 mil Cruzeiros.
O segredo está em estudar e estudar a concorrência, então?
Na verdade, nada se criam, tudo se copia. Em 1981, fiz minha primeira viagem para os EUA. O mercado lá era muito desenvolvido. Além dos produtos diferentes, era a forma de expor, de comunicar... Tudo muito diferente daqui. A comunicação visual que aqui quase não se usava, lá já se usava bem. Vi aquilo lá e o que pude trouxe e apliquei aqui. Fora que tudo que exista de palestra sobre o setor de supermercados, lá estava eu para pegar conhecimento. E sempre explorando muito também o que os fornecedores e vendedores me passavam de informação, porque eles tinham uma boa noção do que estava acontecendo no mercado.
O espírito inovador segue até hoje, depois de tantos anos?
Todo dia a gente vai aprendendo alguma coisa. O corpo envelheceu, mas a mente não.
Essa busca por novos desafios, pela inovação, se aplica também na expansão do Grupo Zonta para além do setor de supermercados?
Eu vejo que muita empresas seguem sempre na mesma atividade e, com o passar do tempo, toda a família fica pendurada nessa atividade. Mas chega num ponto em que não cabe mais toda a familia na mesma atividade. Então, a diversificação é um forma de colocar as pessoas em atividades diferentes e cada um mostrar o seu potencial de administração em cima de alguma coisa sozinho.
Então o que tem por trás da diversificação dos negócios no Grupo Zonta é uma preocupação com a família e com a sucessão?
Sim, a sucessão para mim é algo importantíssimo e envoler a família mais ainda. Eu vi muitas empresas que, quando o fundador se foi, a empresa morreu junto. Em 2007, quando o Ricardo (Ricardo Zonta é ex-piloto de F1 e um dos três filhos de Joanir. Hoje é VP da Rede Condor) falou que não iria mais atuar na F1, que ficaria aqui no Brasil, pensei: esse é o momento para fazer a sucessão.
Mas naquele momento eu imaginava que a sucessão era um processo em que os sucessores se preparavam. Mas, depois de chamar uma consultoria, eu vi que não é nada disso. Na verdade, não é só isso. Na verdade, a empresa também tem que se preparar para a sucessão. Essa parte de empresa já acertamos e eles estão se informando, participando de palestras e entendendo os diversos casos de sucessão familiar. Eu pretendo, com o passar do tempo, criar um conselho do Grupo Zonta, que eu vou presidir, e eles (Além de Ricardo Zonta, Joanir tem mais duas filhas) assumirem as empresas.
A aquisição mais recente do Grupo Zonta, que hoje tem também postos de gasolina e até um shopping em Santa Catarina e uma indústria de sacolas plásticas, foi a compra da Água Ouro Fino. Quais são os planos do senhor para a nova empresa?
A Ouro Fino tem um potencial enorme que não está sendo utilizado em sua totalidade. O ponto princial agora é a definciência logística para entregar 100% dos pedidos. Hoje não entrega por falta de matéria prima. Também está nos planos modernizar, fazer a inovação de que ela precisa.
Quado o senhor compra uma nova empresa, como quando comprou o supermercado lá nos anos 1970, o senhor já sabe o que precisa ser feito?
Na verdade, administrar uma empresa não tem segredo. Eu não preciso entender como o relógio funciona, preciso saber ver as horas. Sobre a administração de uma empresa é a mesma coisa. Administrar empresa é sempre igual. Você tem que olhar três coisas: faturamente, despesa e o lucro bruto. Essa é a rédea que você precisa ter o comando. É bem simples, não é complicado.
O senhor já pensou em desistir, em se aposentar?
Eu peço a Deus que nunca chegue esse momento, porque quando chegar esse momento, eu vou começar a morrer. Em 1998 eu recebi uma oferta que era muito boa. Não ia mais precisar trabalhar. Mas aí, o que eu iria fazer da vida? Eu gosto de trabalhar.