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Reconhecidas por vinhos coloniais, vinícolas paranaenses investem em uvas europeias
Mesmo sem fazer parte das seis principais regiões produtoras de vinho no Brasil*, os viniviticultores do Paraná têm investido para entrar no páreo. Não há como negar a evolução ao longo dos últimos anos: de vinícolas reconhecidas pela fabricação de vinhos coloniais — que passaram a investir, mesmo que timidamente, em vinhos finos — a produtores premiados internacionalmente com espumantes paranaenses.
“Estamos saindo do berço”, diz o enólogo Claudinei Bertoletti. Embora represente a quarta geração de vinicultores da Vinícola Bertoletti, em Bituruna (região de Guarapuava), foi somente em 2008 que o produtor começou a dividir os quase 45 hectares de uvas bordô (usadas para fabricar vinhos coloniais) com variedades mais sofisticadas. As outras vinícolas da região fizeram o mesmo e, hoje, têm bons resultados com Cabernet Sauvignon, Merlot e Moscato.
“Plantamos 90 variedades de uvas finas, só que mais da metade não deu certo. Estamos batalhando para que pelo menos 20 se adaptem. A questão é que isso leva tempo”, explica Bertoletti.
O enólogo se refere ao período em que uma garrafa é idealizada e o momento em que ela finalmente chega à mesa do consumidor. Entre o plantio, o processamento e a maturação de um vinho, existe um caminho que leva no mínimo oito anos para ser trilhado.
Os produtores de Bituruna têm paciência. Apesar da pouca quantidade produzida anualmente em comparação à fabricação do vinho de mesa (são 700 mil litros da versão colonial contra tímidos 15 mil finos). Têm também uma vantagem: a amplitude térmica graças às altitudes elevadas da região, que variam de 650m a 1200m.
“Isso faz com que a gente tenha muitos microclimas que ajudam na maturação da uva. O cenário ideal é um dia muito quente e uma noite muito fria. Neste momento, os ácidos da uva se transformam em açúcares e é aí que se formam elementos importantes de cor e sabor. Os vinhos do Paraná têm uma característica de serem mais encorpados e mais tintos”.
O Paraná tem capacidade técnica para produzir bons vinhos, mas isso não é suficiente
Heloise Merolli, proprietária da vinícola Legado, inaugurada em 2008 em Campo Largo, acredita que os produtores paranaenses têm tecnologia suficiente para produzir rótulos competitivos. Um grande empecilho, aponta ela, é a falta de investimento por parte do Estado.
“O processo de produção é sempre um planejamento que leva décadas. É muito fácil comprar e plantar uvas, mas o estudo de terroir e trabalho com os vinhos é algo a longo prazo. Mas não tem como negar que é necessário um incentivo maior do governo para os produtores”.
Neste fim de semana, outras discussões sobre o assunto serão abordadas durante o Festival do Vinho Paranaense, promovido pela Vinopar – Associação dos vitivinicultores do Paraná.
*As principais regiões produtoras de vinho no Brasil, segundo a Ibravin
- Serra Gaúcha – dividida em três microrregiões: Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Altos Montes, no Rio Grande do Sul
- Campanha – na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai
- Serra do Sudeste – entre a Serra Gaúcha e a Região da Campanha
- Campos de cima da Serra – municípios de Vacaria, Bom Jesus e Muitos Capões
- Santa Catarina – municípios de São Joaquim e Vale do Rio do Peixe
- Vale do São Francisco – região semi-árida dos estados da Bahia e Pernambuco
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