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Vinícola premiada colhe uvas no frio contrariando as regras de produção tradicional
Contrariando a máxima de que a produção de um vinho começa com a colheita da uva no auge do verão, uma vinícola do interior de São Paulo criou um método que permite deixar o fruto mais tempo na parreira. É a chamada vindima invertida, quando a uva é colhida durante o outono e o inverno, gerando vinhos mais potentes e encorpados. O método foi desenvolvido pela Vinícola Guaspari, que abre as portas para a colheita nos fins de semana de maio a julho.
A colheita fora de época foi criada em meados de 2006, quando as primeiras videiras foram plantadas na região de Espírito Santo do Pinhal, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais. A tecnologia, única no Brasil, foi trazida da França e adaptada para a região a mais de 1.300 metros de altitude. O terreno, que antes era ocupado por plantações de café, se mostrou perfeito para a produção de vinhos, com dias ensolarados e noites frias.
“A amplitude térmica aqui vai de 8 a 25 graus, provocando uma alta concentração de açúcar nas uvas e dando origem a vinhos mais encorpados e bem característicos dos produzidos em grandes altitudes. Outro motivo para transferirmos a safra do verão para o inverno foi por conta das condições climáticas, já que o verão é muito chuvoso”, explica Fabrizia Zucherato, diretora executiva da vinícola.
Desde que foi aberta, a Guaspari já recebeu diversos prêmios internacionais pelos vinhos produzidos, como a medalha de ouro no Decanter World Wine Awards de 2012 e 2014 com o Syrah Vista do Chá. Também foi premiada como o melhor branco do Brasil de 2019 com o Viognier Vista do Bosque 2016, e a medalha de ouro no Chardonnay du Monde, neste ano, para o Vista do Lago 2016.
Poda drástica
A vinícola utiliza a tecnologia da ‘dupla poda’, em que as primeiras uvas são completamente podadas entre janeiro e fevereiro – quando começam a se desenvolver. Ou seja, a planta volta à estaca zero de produção. Mas, isso a ajuda na frutificação mais intensa dos bagos, aumentando a concentração de açúcar nos frutos no auge do verão.
O método trazido ao Brasil pelo pesquisador Murilo Regina, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), é usado para produzir nove variedades de uvas na Vinícola Guaspari, entre elas a Syrah, a Cabernet Sauvignon e a Chardonnay. A mesma tecnologia também é utilizada em um vinhedo na região do Vale do Rio São Francisco (BA), onde a Miolo produz espumantes em larga escala dentro deste método e do tradicional de poda no verão.
“Isso faz com que a gente consiga produzir a uva praticamente na hora que quisermos, dependendo do uso que será dado a ela”, completa Fabrizia Zucherato. No caso da Vinícola Guaspari, a plantação começou a dar frutos em 2014, quando foram lançados os dois primeiros rótulos da marca.
Passados cinco anos, os vinhedos já alcançam 50 hectares plantados na região da Serra da Mantiqueira e dão origem a sete rótulos de vinhos, com maturação de oito meses a até dois anos. São variedades de tintos, brancos e rosés que custam de R$ 88 a R$ 480.
Festa da vindima invertida
Para quem quiser participar, a festa da colheita invertida é realizada aos sábados, domingos e feriados até o dia 28 de julho, às 9h30, com café de boas vindas, tour pelo vinhedo com colheita simbólica, acesso à área de produção, degustação de quatro rótulos de vinhos e almoço com pratos típicos da região (costela fogo de chão e hambúrgueres artesanais). Os pacotes custam de R$ 480 a R$ 580 por pessoa. Há, ainda, pacotes de visitação sem o almoço harmonizado a partir de R$ 65 disponíveis no site da vinícola.