Bebidas
Vinho também é bebida refrescante! Conheça as uvas ideais para o verão
O brasileiro já sabe que não é preciso esperar a chegada do inverno para degustar um bom vinho. A cada ano, aumenta no país o consumo de espumantes, champanhes, vinhos brancos, rosés ou até mesmo tintos leves na época de verão.
“Já foi o tempo em que as pessoas associavam o consumo de vinho ao tinto e apenas durante os meses frios. Atualmente, com a democratização do consumo e com acesso ao conhecimento, os demais estilos entraram em cena”, afirma a sommelier Patrícia Skvira. Ela salienta que, como existe uma ampla variação de características entre os estilos, os mais refrescantes, leves e aromáticos ganharam o seu momento e brilham no verão.
“Além de serem frescos, os vinhos leves têm como características o menor teor alcoólico. Um bom exemplo são os Vinhos Verdes (brancos) de entrada, originais da região do Minho, em Portugal, que variam de 9 a 12% de álcool”, explica o gerente de desenvolvimento de vinhos da importadora Porto a Porto e professor do curso de Sommelier do Centro Europeu, Flávio Bin.
Outras características, no caso dos brancos, são coloração mais clara ou pálida e boa acidez. “Eles podem ser harmonizados com pratos mais leves, de sabor menos intenso e não muito calóricos, ou apenas degustados na praia, na piscina ou em um happy hour de verão”, recomenda.
Os vinhos leves não devem ser guardados por muito tempo após a sua elaboração. Eles não envelhecem em barricas e, falando dos tintos, têm quantidade menor de taninos (polifenol encontrado naturalmente em plantas ou frutos), responsáveis pela estrutura e complexidade do vinho.
Para combinar
Iguarias como frutos do mar, por exemplo, tão apreciadas no verão brasileiro, são facilmente harmonizadas com vinhos leves. “Eles podem acompanhar desde petiscos, como camarão à milanesa, casquinha de siri ou lula empanada, até pratos principais, como uma peixada, com tomate, cebola, salsinha ou um peixe com molho de camarão, por exemplo”, diz o diretor e professor da escola de sommeliers Alta Gama, Wagner Gabardo.
Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo
Na hora de harmonizar, Patrícia Skvira sugere que vinhos e alimentos sejam “equivalentes”, para que um não se sobressaia sobre o outro. “O ceviche, que tem como característica principal a acidez, deve ser harmonizado com um vinho de acidez equivalente, como um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia”, sugere.
Outras dicas da sommelier são os espumantes para acompanhar aperitivos, entre eles camarões crocantes com molho de coco picante, e o vinho Jerez fino servido com ostras in natura.
Independente da cor do vinho a ser consumido no verão, Gabardo alerta que o mais importante é a acidez. “É o que o torna refrescante”. No caso dos tintos leves, a dica é deixar meia hora na geladeira antes de servir e, assim, bebê-lo geladinho. Se a escolha for um rosé, ele sugere os de tons mais claros, que são mais refrescantes.
O sommelier Andre Porto, professor do curso de vinhos Petit Sommelier, ensina que os brancos leves são melhores apreciados se degustados a uma temperatura média de 8 °C, o que melhora a percepção de frescor. “Tintos jovens, como alguns Pinot Noir, podem ficar mais interessantes em torno dos 12 graus”. Ele salienta, ainda, que é possível harmonizar esses vinhos com todas as correntes gastronômicas. “Desde a cozinha clássica até a comida de boteco, sanduíches e petiscos”.
Pra não errar
Alguns passos simples podem te ajudar no consumo de vinhos no calor; veja as dicas do livro “O Mundo do Vinho”, lançado pela importadora Porto a Porto:
- Algumas harmonizações clássicas de verão são: champanhe brut com caviar e chablis com ostras;
- Vinhos brancos leves e espumantes não devem ser guardados após abertos. No caso dos espumantes, a menos que haja uma tampa específica que vede e segure totalmente o gás, não estarão mais agradáveis após algumas horas. O ideal é abrir e degustar;
- Nem todo espumante é champanhe, mas apenas os produzidos na região homônima da França. Alguns nomes para bebidas similares em outros países são: Cava, na Espanha; Asti e Prosecco na Itália e Sekt, na Alemanha;A temperatura correta para os vinhos tintos leves, na hora de servir, é entre 14 a 16 °C. As garrafas de rosés devem estar de 8 e 12 °C e os brancos leves entre 7 e 9 °C. Já os espumantes, o ideal é que sejam servidos entre 6 e 8 graus;
- Uma garrafa deixada por aproximadamente oito minutos na água com gelo (balde) sofrerá uma redução de 5 graus em sua temperatura, o que corresponde a 60 minutos de permanência na geladeira;
- Geralmente a taça e o espumante estão em temperaturas diferentes. Então, sirva dois dedinhos em cada taça para que o copo comece a gelar e, em seguida, complete com o líquido até a altura desejada. Tente não espumar demais a bebida (na hora de servir), pois quando perde o gás, perde qualidade;
- Na dúvida, sempre sirva o vinho um pouco mais gelado do que você acha ideal;
- Um espumante brut tem capacidade para acompanhar uma refeição inteira, da entrada a sobremesa. Isso porque a característica marcante destes vinhos é a acidez, que limpa o palato para a próxima garfada;
Sugestões
Conheça alguns exemplos de vinhos leves
Brancos:
Vinhos verdes portugueses de entrada, com as castas de Loureiro, Trajadura e Pedernã; Sauvignon Blanc, da Nova Zelândia e da África do Sul; Frascati e Orvieto
Vinhos verdes portugueses de entrada, com as castas de Loureiro, Trajadura e Pedernã; Sauvignon Blanc, da Nova Zelândia e da África do Sul; Frascati e Orvieto
Tintos:
Bardolino, Valpolicella e Dolcetto, da Itália; Beaujolais, da França (uvas Gamay) Rosés e espimantes de maneira geral
Bardolino, Valpolicella e Dolcetto, da Itália; Beaujolais, da França (uvas Gamay) Rosés e espimantes de maneira geral
Uvas que originam vinhos tintos leves:
Dolcetto
Cinsault
Gamay
Grenache
Pinotage
Pinot Noir
Tempranillo jovem
Dolcetto
Cinsault
Gamay
Grenache
Pinotage
Pinot Noir
Tempranillo jovem
Uvas que originam vinhos brancos leves:
Loureiro
Chardonnay
Chenin Blanc
Pinot Gris ou Pinot Grigio
Sauvignon Blanc
Pinot Blanc
Verdejo
(obs – elaboração dos vinhos sem passagem por barrica)
Loureiro
Chardonnay
Chenin Blanc
Pinot Gris ou Pinot Grigio
Sauvignon Blanc
Pinot Blanc
Verdejo
(obs – elaboração dos vinhos sem passagem por barrica)
Vinho sem frescura
Para disputar mercado com a cerveja e outras bebidas populares nos dias quentes de verão, a tendência é flexibilizar a maneira de beber vinho, incentivada pelos profissionais do mercado. “Produtores nacionais já oferecem vinho em lata ou espumante retirado de máquinas similares às chopeiras”, diz Zanette.
Na opinião de Gabardo, o uso de taças adequadas não tem grande relevância. “Você pode ser feliz tomando vinho branco no copo e com gelo”. Ele garante que, especialmente no verão, também é permitido “brincar” com coquetelaria.
O professor ensina a misturar pêssego em calda, suco de laranja ou de maracujá com vinhos brancos, espumantes ou rosés, transformando em clericots, ou sangrias, com vinhos tintos leves. “Com licor de laranja também fica bem gostoso”, garante. Segundo Gabardo, a bebida pode ser saboreada em copo ou em taça, não importa, mas sempre em temperatura bem fresca.
“As pessoas têm que perder preconceitos e tradicionalismo sobre o servir e consumir o vinho, o que é muito protocolar e, às vezes, intimida. Tem que flexibilizar”, acredita. Ele aposta que, quanto mais se facilitar o consumo, seja com garrafas de tampa rosca ou até mesmo vinho em latinhas, mais gente passe desfrutar da bebida.
“O vinho deve ser descomplicado, democratizado, simplificado. O ritual e formalidades em torno do vinho não precisam ser seguidos à risca quando o ambiente é informal e descontraído”, frisa Patrícia. Ela comenta que hoje é comum presenciar pessoas tomando espumantes, brancos e rosés na areia da praia, cena que não se imaginaria tempos atrás.
Uma campanha publicitária lançada em 2018 pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) “Seu Vinho, Suas Regras”, que deverá ser intensificada neste ano, incentiva a ruptura dos principais pilares do consumo tradicional do vinho: harmonização, conservação, temperatura e experiência.
O objetivo é atrair novos consumidores, aproximando-se, especialmente, da Geração Y (pessoas nascidas nas décadas de 1980 e 1990). Para isso, incentiva a desmitificação no processo de escolha e consumo dos vinhos, além de levar uma mensagem leve, descontraída e menos burocrática da bebida.
Segundo o presidente do Ibravin, Oscar Ló, a campanha já surtiu efeito. Até outubro do ano passado, havia sido contabilizado um aumento nacional de 13% no consumo de espumante, comparando com o mesmo período de 2017.
“A ideia é flexibilizar as regras e protocolos no consumo de vinho. Mostramos, por exemplo, que é possível beber espumante com gelo. Além de ser muito refrescante, diminui o teor álcool”, ensina. A meta principal é não inibir o consumidor e fazê-lo entender que para beber vinho não precisa ser um estudioso do assunto.
Espumantes nacionais
Segundo Oscar Ló, há um movimento mundial, que inclui os países europeus, de consumidores que buscam vinhos mais leves e com graduação alcoólica menor.
No Brasil, especialmente no verão, aumentou muito a procura por espumantes nacionais, que são menos alcoólicos que os champanhes importados. “Antes era uma bebida típica de celebrações e festas, mas há uns cinco anos, o espumante caiu no gosto dos consumidores como uma bebida do dia a dia”, diz Ló. Na última década, os nacionais conquistaram mais de 2,5 mil premiações internacionais.
Na opinião do professor Wagner Gabardo, os espumantes brasileiros têm conquistado o mundo porque são de muito boa qualidade e refletem os sabores e aromas de nossas frutas. “Eles têm aromas vivos de pêssego, de flor, e sabor frutado, o que encanta o consumidor estrangeiro e têm conquistado críticos de vinhos e juízes de concursos pelo mundo”, conta.
André Porto lembra que os espumantes brasileiros estão em alta também por serem acessíveis. “Eles são bastante flexíveis nas harmonizações e acompanham bem carnes brancas, peixes, saladas e comidas típicas do verão, devido ao frescor e agradável acidez”.
Responsável pela produção anual média de 350 mil garrafas de espumantes premium, elaborados exclusivamente pelo método tradicional, o diretor de Marketing da Vinícola Geisse, Daniel Geisse, confirma que a qualidade do espumante que a Serra Gaúcha vem produzindo nas últimas décadas tem conquistado a confiança e o paladar dos consumidores. “Isso vem ganhando força e prestígio”.
Seu produto é elaborado com uvas Chardonnay e Pinot Noir, as mais indicadas para elaboração de espumantes de alta qualidade, provenientes de vinhedos próprios do terroir na Serra Gaúcha. “Espumantes podem ser consumidos perfeitamente o ano todo, mas têm uma característica própria para harmonizar com o verão, pois são na sua maioria refrescantes e remetem a momentos de prazer e alegria”, ressalta Porto.
Mudança no perfil do consumidor
Se hoje não causa mais estranheza beber vinho durante o tórrido verão brasileiro, a mudança de comportamento e de perfil do consumidor é resultado de um trabalho intenso e incansável feito nos últimos anos por importadoras, produtores nacionais e profissionais do setor.
“Há mais de 20 anos, trabalhamos para descomplicar e desmistificar o mundo do vinho, junto aos clientes e aos profissionais do setor”, explica Flávio Bin. “O objetivo é aproximar a bebida do consumidor, diminuindo regras e protocolos e colocando o vinho como uma bebida simples, que existe há mais de 7 mil anos”.
Segundo ele, isso é feito por meio de degustações, treinamentos, exposições e feiras do setor, o que tem ajudado a combater o preconceito que havia especialmente com brancos e rosés. “Nos últimos anos, o consumidor percebeu a importância dessas bebidas”, fala.
Outro fator importante é que nesta década começaram a chegar vinhos rosés de melhor qualidade ao Brasil e o consumo vem aumentando gradativamente. Bin também destaca a perceptível mudança na faixa etária média de iniciação ao vinho no Brasil. “Há duas décadas, as pessoas começavam a beber vinho depois dos 40, 50 anos. Hoje, jovens abaixo de 30 anos já consomem bastante, especialmente rosés e brancos”, explica.
Raphael Zanette, importador e sócio de diversos restaurantes e winebars em Curitiba e São Paulo, há mais de 15 anos no setor, confirma que o mercado brasileiro mudou muito. Segundo ele, antes o perfil do consumidor era na maioria de homens e mais velhos que praticamente só saboreavam tintos encorpados, o que fazia com que as vendas de vinhos caíssem drasticamente no período de verão. “Pessoas mais velhas foram traumatizadas por um vinho branco alemão doce que chegava ao Brasil.”
Atualmente, segundo ele, o acesso é mais democrático e menos formal. “O vinho rosé está na moda, especialmente para os mais jovens”, afirma. Também há grande interesse pelos brancos frescos e com mais acidez.
“Os espumantes não são mais uma bebida consumida exclusivamente em festas”, complementa. Num de seus estabelecimentos de Curitiba, desde o ano passado, nos meses de verão, acontece a Terça do Espumante, noite com preço fixo para quem quiser consumir a bebida à vontade.
Negócios
O mercado nacional de vinhos em números:
Anualmente são vendidos no mercado interno 200 milhões de litros de vinho e 20 milhões de litros de espumantes elaborados no Brasil;
Anualmente são vendidos no mercado interno 200 milhões de litros de vinho e 20 milhões de litros de espumantes elaborados no Brasil;
Produtos de vinícolas brasileiras estão em 52 países de cinco continentes;
O setor movimenta no Brasil mais de R$ 9 bilhões por ano;
O Brasil conta com aproximadamente 1.100 vinícolas formalizadas;
Na última década, espumantes nacionais conquistaram mais de 2,5 mil premiações internacionais.
(Fonte: Ibravin)