Bebidas

Vinhos e destilados devem encarecer 30% no Paraná

Carlos Coelho
28/02/2013 19:48
A partir desta sexta-feira (1°), uma nova medida fiscal deverá encarecer as bebidas alcoólicas classificadas como quentes nas prateleiras do Paraná. Vinho, cachaça, vodca e outros destilados podem subir até 30%, segundo empresários e tributaristas. O motivo é uma alteração na forma de cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que anteriormente era colhido em cada fase da comercialização (produção, distribuição, transporte e venda ao consumidor), e passa a ser cobrado apenas do fabricante.
A alteração foi aprovada por alguns estados no ano passado, mas só agora entra em vigor no Paraná. Na prática, facilita o recolhimento do tributo e evita a sonegação fiscal, já que é cobrado apenas uma vez – modelo chamado de Substituição Tributária (ST). Porém, a medida onera o fabricante (ou importador), que terá um custo maior para liberar os seus produtos, e, sobretudo, os varejistas, que já compram o produto com o imposto embutido – vendendo-o ou não.
Raphael Zanette, proprietário da rede varejista Vino!, especializada em vinhos, elogia a intenção de se coibir a sonegação fiscal. Porém, discorda da forma como é feita. “Para quem arrecada, é uma medida eficiente. Mas preocupa muito quem vende. Com esta mudança, estimo que haja um aumento de 30% nos preços. Um vinho no Brasil custa três vezes mais do que nos Estados Unidos, que também é um país importador. Tudo por causa dos impostos.”
O valor cobrado pelo fisco é calculado sobre a Margem de Valor Agregado (MVA), que é estabelecido pela Secretaria da Fazenda sobre um preço final presumido. O órgão realiza estudos, que levam em conta, por exemplo, fretes e seguros, e estabelece este valor. E é aí que mora parte da polêmica: para muitos, este valor presumido é maior do que o real; o que encarece o tributo e, consequentemente, toda a cadeia produtiva.
“Não se sabe ao certo como é definido este valor para o cálculo prévio do tributo. Em muitos casos, temos observado que é cobrado mais do que o mercado realmente pratica”, diz o advogado tributarista Hélio Santana. “Quem paga a conta é o consumidor”, diz. Este acréscimo somado a uma alíquota maior sobre estes produtos (que antes pagavam 12% de tributo, e passaram a pagar 25% no ano passado) resultam em encarecimento.
Pequeno varejo
A situação afetará principalmente os pequenos varejistas, estima Pedro Corrêa de Oliveira, diretor da importadora Porto a Porto. “A mudança vai ser sentida pelos pequenos lojistas, pelos restaurantes, por quem tem negócios menores [empresas enquadradas no regime chamado Simples Nacional]. O grande varejo [supermercados e redes multinacionais] já pagava uma taxa diferente. Já o pequeno, que antes tinha uma tributação menor, passa a pagar a mesma coisa que os gigantes”, aponta.
O modelo de ST já havia sido adotado por outros estados no ano passado. São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina já haviam feito a substituição. “O Paraná acabou obrigado a entrar no acordo para não ficar ilhado. Teríamos que ter uma legislação mais geral para isso”, defende Oliveira.
Contrabando
Para Zanette, valores maiores devem impactar diretamente no número de consumidores. “Vinho é tratado como produto supérfluo pelo brasileiro. Com um aumento deste, não há como segurar o consumidor. A pessoa que bebia com uma certa frequência, vai diminuir seu consumo. E quem será impactado são as lojas de rua. Os pequenos varejos estão com a corda no pescoço.”
O empresário aponta que a medida pode favorecer o mercado negro. “Aqui no Paraná, estamos na divisa com Paraguai e Argentina. Hoje existem contrabandistas que entregam o vinho na porta do comprador com um preço 10, 15% maior do que em seu local de origem. Como competir com isso?”, questiona.

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