Bebidas

Shiraz australianos — tintos frutados e cremosos

por Guilherme Rodrigues - guilhermer@gazetadopovo.com.br
11/07/2013 03:28
A uva Syrah, ou Shiraz como grafada na Austrália, é uma das mais nobres castas tintas do planeta. Conta a lenda que foi trazida pelos cruzados, da Pérsia para a França. Melhor frutificou no Hermitage, logo ao sul de Lyon. Por suas qualidades e adaptabilidade a regiões mais quentes, difundiu-se no resto do mundo. Na Aus­trália é a tinta predominante. Faz vinhos profundos e amplos, complexos, de frutado cheio e textura aveludada. O ícone australiano é o famoso Grange, da Penfolds, obra do saudoso Max Schubert, com preço na casa dos 800 dólares a garrafa, no exterior.
O grande salto dos vinhos australianos deu-se a partir da década de 1980. Em pouco tempo, de uma indústria quase irrelevante, voltada a vinhos doces licorosos, o país saltou para o 4º maior exportador mundial na virada do milênio. O mercado interno é poderoso, com o consumo per capita na ordem de 30 l/ano. A receita do milagre é simples: muito investimento na qualidade e um terroir propício. O excesso de madeira é página virada na Austrália.
Os vinhedos frutificam entre os paralelos 30 e 40. A maior parte nas regiões mais frescas, perto do paralelo 40 e junto ao mar. Três grandes regiões dominam o cenário: Sudeste (South Eastern ou South Wales), Sul (South Australia) e Oeste (Western Australia). As demais são Victoria, Tasmania e Queensland. Há diversas sub-regiões. Dentre as mais famosas, Barossa e Mc Laren Valley, ambas dentro da região Sul.
Provas e confrarias
Uma das coisas mais agradáveis da minha experiência com os vinhos é compartilhar as boas garrafas. Reunir amigos que também saibam apreciar a bebida e compartilhar garrafas, é sempre uma ocasião especial, cheia de entusiasmo. A gente compara os vinhos, troca impressões e opiniões, fala de outros assuntos. Enfim, um relaxamento da faina diária. Esses grupos, fixos ou não, costumam ser chamados de confrarias. Além do que, uma reunião dessas é superinstrutiva e permite, pelo custo de uma garrafa, degustar 8 ou 9 diferentes, tantas quantos os amigos em volta da mesa. É muito fácil. Escolhe-se um grupo de amigos, marca-se lugar e data. Cada um leva um vinho (ou dois…). É bom o grupo ter uma ideia de uma faixa de preço para as garrafas, ou gama de qualidade, para evitar distorções. O ideal é que haja em torno de 6 a 8 pessoas. Tenha em mente que uma garrafa tem 750 ml. Uma dose de degustação técnica é de 50 ml. Para desfrute, é pequena. Nesse caso, o ideal é em torno de pelo menos 90 a 100 ml por cabeça. Até 10 pessoas ainda vai, mas começa a ficar pouco de cada vinho. Também vira festa. Muita gente; não se consegue falar com todos, muito difuso e perde-se concentração. Menos do que 4 é pouco. Sobra mais do mesmo vinho, mas em contrapartida será menor a variedade. Pode-se provar os vinhos sem comida, mais técnico, nesse caso água mineral e pão neutro bastam. Também é muito interessante fazer a prova num tema fechado. Se escolher uma safra única, a prova é dita horizontal. Se escolher um rótulo único e diversas safras do mesmo vinho, é dita prova vertical. Muitas vezes faço provas técnicas e, após a mesma, serve-se a comida com os mesmos vinhos da prova, ou outros. Outro tipo interessante é a chamada de prova “às cegas”. Nela, os degustadores não sabem que vinho estão provando. Diante de si apenas um copo com numeração. Só ao final os rótulos serão revelados. É das melhores, pois evita o viés da simpatia por este ou aquele vinho, ou o temor de dizer mal de um rótulo sonante, ou vice versa. Tanto pode acontecer na casa de um dos membros do grupo, como num clube, qualquer espaço agradável. Depois, táxi na porta para não cair na rede do bafômetro.

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