Bebidas
É na terra do vinho que está a maior produção nacional de cerveja artesanal
Com produções cada vez mais inusitadas e paladares curiosos, o mercado de cervejas artesanais não dá sinais de que vai desacelerar tão cedo. Que o diga a quantidade de pequenas e médias cervejarias que abrem no Brasil, em média uma a cada dois dias segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E até mesmo a terra do vinho vê sua principal bebida dar lugar a este fenômeno – o Rio Grande do Sul.
Em todo o país já são 889 cervejarias, sendo 186 delas criadas pelos gaúchos. Os dados são do Anuário da Cerveja, levantamento que mostra um crescimento impulsionado principalmente pela mudança de paladar dos brasileiros. Segundo o ministério, os consumidores estão cada vez mais em busca de cervejas especiais com sabores diferenciados. Neste cenário, saem as pilsens fabricadas em larga escala e entram as pequenas produções de acordo com Carlos Vitor Müller, coordenador-geral de vinhos e bebidas do Mapa.
“De todas as cervejarias abertas no país, pelo menos umas 800 são pequenas ou médias de produção artesanal. É um mercado que acompanhou a mudança de perfil do consumidor, que passou a ter acesso a produtos melhores e com mais qualidade durante o ‘boom’ econômico de 2011 e 2012”, explica. Só no ano passado foram 210 novas cervejarias abertas no país (23% a mais que em 2017), principalmente nos estados do sul e sudeste.
Luis Celso Jr., colunista de cervejas do Bom Gourmet, explica que a bebida ganhou um status semelhante ao do vinho, seguindo uma tendência mundial. Para ele, as pessoas descobriram que também dá para fazer harmonizações e análises sensoriais, além de festivais e visitas às cervejarias.
Menos uva, mais cevada
As cervejarias brasileiras lançaram quase 7 mil novos rótulos de cervejas e chopes, entre artesanais e em larga escala. Mas, foi na terra do vinho que a produção tomou conta dos paladares – foram 1,2 mil registros. Carlos Vitor Müller explica que isso não ocorreu por acaso. Foi apenas um reflexo do que já vinha acontecendo no restante do país – mas em um movimento ainda maior.
“Pelo nível cultural das pessoas, pelo apreço que elas têm por bebida de qualidade, houve uma migração fácil entre tomar um bom vinho para uma boa cerveja. Antigamente não se tinha uma opção de cerveja com status para botar à mesa, e agora as artesanais mudaram um pouco o jogo e se equipararam ao vinho”, ressalta.
Só a capital, Porto Alegre, responde por pouco mais de 1/3 da produção de cervejas do estado em 35 cervejarias.
Jovens empreendedores
Essa mudança de perfil se deu não apenas pela mudança do paladar dos brasileiros. Mas também por uma turma de jovens empreendedores que viu na cerveja algo relativamente fácil de fazer – e de despertar curiosidades.
O paulistano Lucas Berggren, por exemplo, veio de uma família de industriais do ramo têxtil, cursou Direito na faculdade, e se apaixonou pelo ofício de cervejeiro. Foi fazendo a bebida em casa, na panela, que descobriu como instigar os paladares com sabores mais diferentes e inusitados. É da pequena Nova Odessa, no interior de São Paulo, que saem nove rótulos abastecendo dezenas de bares e empórios do estado.
“Tudo começou como um hobby que eu aprendi com o meu pai, de fazer cerveja em casa. Era só para a gente e os amigos, não tinha intenção de tornar isso um trabalho. Mas, depois de visitar algumas cervejarias, tive a ideia de abrir uma pequena cervejaria, que veio em 2009. De lá para cá a gente cresceu tanto que chegamos a produzir mais de um milhão de litros ao mês”, conta.
Entre os sabores inusitados produzidos por Berggren as cervejas com café, laranja, limão e chocolate. De acordo com o Anuário da Cerveja, o estado de São Paulo é o segundo maior produtor brasileiro, com 165 cervejarias e quase 1,3 mil receitas registradas.
País da cerveja
Ainda segundo o Anuário da Cerveja, quase 10% das cidades brasileiras tem pelo menos uma cervejaria – 889 em 479 municípios. Nelas estão registrados 16,9 mil produtos entre cervejas e chopes. Embora o mercado de cervejas artesanais ainda esteja em franco crescimento, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento afirma que alguns dos registros já começaram a ser cancelados, suspensos ou retirados pelos empresários.
Ainda não há números consolidados ou uma tendência definida, mas o órgão afirma que pode estar começando uma acomodação do mercado, com cervejeiros deixando de produzir variedades com pouco apelo comercial.