Bebidas
“O Brasil não tem que copiar os vinhos da Europa”
Há quem acredite que o enólogo Dirceu Scottá leve o sobrenome Dal Pizzol, pois faz parte da história e dos projetos da vinícola há quase 20 anos. Neste tempo, esteve também à frente da Associação Brasileira de Enologia durante duas gestões (2004 a 2007) e em 2012 foi eleito o enólogo do ano pela Associação Brasileira de Enologia. Em 2013 assumiu a presidência da União Brasileira de Vitivinicultura e para o biênio de 2016/17, a presidência do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Diante de um momento econômico e político incerto e após a maior quebra de safra que o Rio Grande do Sul já enfrentou (302,2 milhões de quilos de uva em 2016 contra 702,9 milhões de quilos em 2015), Scottá conversou com o Bom Gourmet.
Safra 2016
“Geada, granizo e chuva em excesso no período de floração fez com que a safra reduzisse 57% em 2016. Várias empresas reduziram a produção de suco de uva e provavelmente vão deixar de atender ao mercado. No caso dos vinhos finos e dos brancos, não vai se notar tanto porque há um estoque regulador. Além do aumento dos impostos, a queda de produção em virtude dos fatores climáticos fez com que aumentassem muito os custos e o preço vai aumentar um pouco.”
Impostos
“Praticamente 65% do que se paga é imposto, tem vinho brasileiro custando mais que o importado. Na Europa e no Mercosul, os produtores têm incentivos para produção e carga tributária muito menor, entre 20% e 30%. Estamos batalhando para que se reduza, principalmente, o imposto sobre produtos industrializados. Somos penalizados ao extremo. Um vinho de R$ 50 pagava no máximo R$ 0,73 de IPI, hoje paga R$ 5. Por mais que a volta do IPI aos 5% ou 6% tivesse sido acordada no governo Dilma, continuamos lutando. Tivemos audiências com o Temer, mas de imediato não temos perspectiva. É praticamente inviável comercializar vinho. O governo não quer abrir mão de nada, mas tem que analisar que está inviabilizando um setor. Nos últimos dois anos, esse aumento exorbitante do IPI mais o ICMS compartilhado fez com que aumentasse muito o valor final.”
Gosto x mercado
“Temos de ficar atentos à mudança do mercado. Às vezes o produtor elabora o vinho de acordo com o gosto dele. O Brasil não tem que copiar a Europa. O Brasil é um país do Novo Mundo e tem que explorar essa situação. Fazer espumantes fáceis, jovens, frescos. O grande volume de brancos e tintos jovens devem ser fáceis de beber, descontraídos. Isso permite aproximar o vinho dos consumidores.”
Vinhos paranaenses
“Da mesma forma que Santa Catarina se desenvolveu, o Paraná tem que se desenvolver. Tem as regiões mais tradicionais, Marialva e o oeste, mas podem surgir outras. A tecnologia permite que se trabalhe com podas em diferentes momentos, mudar o período de colheita e tirar o máximo de cada região. Acredito no potencial do Paraná como outro terroir vitivinícola brasileiro. O que a gente observa é que o estado é um mercado restritivo quanto a vinho nacional. Tem muito importado e talvez o vinho brasileiro comece a ingressar com um moscatel e espumante.”