Bebidas
Licor de Araucária: conheça a bebida feita com folhas da árvore símbolo do Paraná
Curitiba tem um licor só seu. De cor verde intensa, o destilado adocicado é feito a partir de uma velha conhecida pelos nascidos na terra do pinhão: a grimpa da araucária. Isso mesmo. As folhas firmes e pontiagudas da árvore-símbolo do Paraná são a matéria-prima do licor de araucária, uma bebida produzida em microescala na capital paranaense.
O produto ganhou destaque quando o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, postou uma foto em seu perfil no Facebook no último domingo (27). “O Licor de Araucária, de cor verde profundo, amadeirado e levemente doce, é uma elegante sugestão de presente original, tipicamente curitibano. Na foto posei com o licor no meu pinhal em São Rafael das Laranjeiras”, publicou o político.
A garrafa de vidro bojuda em formato de pinha e decorada com um pinhão foi dada ao prefeito pelos sócios-proprietários da Casa do Fumo, João e Madalena Antunes. O tradicional comércio do Centro Histórico de Curitiba, inaugurado em 1956, é o único lugar onde a bebida pode ser encontrada.
Cada embalagem tem 900 ml e custa em média R$ 75. Por mês, são vendidas apenas 10 unidades. “Não sabia que ele [Greca] iria expor assim mas, depois dessa propaganda, com certeza vai aumentar a procura. Vamos aumentar a oferta de acordo com a demanda”, diz João.
Produção artesanal
É bem provável que o licor esverdeado não seja novidade para os curitibanos atentos às produções locais. De fato, o produto existe há mais de 12 anos e começou a ser comercializado pelo economista Roberto Gava, 73, mas sempre em pequenas quantidades. Como são produzidas apenas 100 garrafas por mês, a bebida acabou se tornando um item raro na cidade.
A coleta das grimpas, segundo ele, é feita em propriedades privadas, sem danos às árvores. Para cada litro da bebida são necessários 20 quilos de matéria-prima.
A ideia de fazer um licor a partir da Araucaria angustifolia surgiu durante uma das reuniões do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), do qual Gava atuou como conselheiro no início dos anos 2000. “Foi na época em que ela [araucária] entrou na lista das espécies em extinção. A partir daquele momento, comecei a pensar em uma forma de mostrar que a árvore tinha mais aproveitamento do que apenas sua madeira”.
O economista partiu de exemplos clássicos de bebidas típicas de cidades e países ao redor do mundo. “Muitos lugares têm uma fruta específica e única que é utilizada para fazer licor. Pensei: por que não criar um com a araucária?”, conta.
Depois de uma série de testes – uma das versões, inclusive, foi criada independentemente pelo engenheiro ambiental Arnaldo Carlos Müller, na época à frente da ONG Instituto do Desenvolvimento Sustentável –, o produto ficou pronto. Um destilado feito com álcool de cereais, folhas de araucária infusionadas por 48 horas e açúcar cristal.
A princípio, a bebida era comercializada apenas entre amigos, mas logo ganhou visibilidade na capital paranaense. Em 2007, quando o Papa Bento 16 esteve no Brasil, Gava presenteou o pontífice com uma garrafa do licor de araucária. O feito lhe rendeu um título de cidadão honorário de Curitiba quatro anos depois.
“A intenção é que essa garrafa seja uma lembrança da cidade. Afinal, a grimpa consta na bandeira do Paraná ao lado do ramo de erva-mate como um dos símbolos do estado”, afirma Gava.
Licor de araucária: uma forma de salvar a espécie
Em 1998, o pinheiro-do-paraná já era considerado uma espécie rara e a situação só piorou nos anos seguintes. Hoje, é classificada como uma espécie em risco extremo de extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Para o engenheiro ambiental Arnaldo Carlos Müller, transformar um subproduto da planta em algo rentável e de valor cultural é a melhor forma de cuidar da araucária. “A gente precisa urgentemente salvar essa espécie e isso se faz pelo uso, não pela proibição”, aponta.
“Hoje, um pinheiro significa perda de espaço útil para a agricultura. Então o que acontece? Assim que um brota no campo, os produtores logo arrancam porque, se deixar crescer, aquela terra se perde. O pensamento tem que ser o contrário. Eles têm que olhar para o pinheiro e pensar que ele pode ser mais uma fonte de renda. Tem que salvar pelo interesse econômico”.
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