Bebidas
Barista Leo Moço perde o título de campeão brasileiro por descumprir regulamento
Poucos dias depois de se tornar campeão no Campeonato Brasileiro de Barismo 2019, em Minas Gerais, Leo Moço teve seu título cancelado. O comunicado ao barista carioca radicado em Curitiba foi feito na quarta-feira (27) via e-mail pelo World Coffee Events (WCE), órgão realizador dos principais campeonatos de cafés especiais no mundo.
No mesmo dia, Leo Moço publicou um vídeo em seu perfil no Instagram, onde explicou o motivo da desclassificação. “Segundo a BSCA [Associação Brasileira de Cafés Especiais] 18 baristas entraram com recurso no WCE (…) dizendo que eu usei álcool no meu drink. E eles aceitaram”, informou.
Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, a BSCA reconheceu que “houve um erro de pontuação importante com relação à regra 33.G do Campeonato de Barismo, a qual prevê que quaisquer ingredientes podem ser usados na preparação das bebidas exclusivas, exceto álcool, extratos ou subprodutos do álcool ou substâncias controladas ou ilegais”.
O comunicado diz ainda que “se essas substâncias forem utilizadas no preparo da bebida, os concorrentes recebem zero (0) ponto em todas as categorias disponíveis nas fichas sensoriais na categoria de bebidas de assinatura. Assim, o álcool não é permitido em nenhuma etapa da preparação. Diante disso, em respeito aos competidores, ao público e em função do descumprimento do regulamento, Comitê Estratégico de Competições (CSC), Judge Operations Leads (JOL) e WCE revisaram a pontuação do Campeonato Brasileiro de Baristas e comunicaram a BSCA sobre a decisão. A partir dessa iniciativa, a colocação do competidor foi alterada.”
O barista Leo Moço passa então para o segundo lugar no pódio. O paulista Boram Julio Um (da Um Coffee Co.) é o campeão da competição e o terceiro lugar permanece com o curitibano Vitor Haubert Coelho (do The Coffee).
O drink de Leo
A regra foi descumprida na prova “drink não alcóolico de assinatura”, uma das três etapas que compõem o Campeonato Brasileiro de Barismo. As outras duas são espresso e cappuccino. Leo Moço preparou uma bebida de café utilizando gás carbônico obtido a partir do whisky. “Meu ingrediente tinha os voláteis de um whisky, não tinha álcool”, defendeu o barista em entrevista por telefone ao Bom Gourmet.
Servido em um copo de whisky com gelo, seu drink de assinatura era composto de espresso da variedade robusta (cultivado por indígenas de Rondônia), calda de xilitol, redução de graviola e CO2 de whisky.
“A ideia era fazer com que a pessoa sentisse o aroma da bebida e a associasse ao cheiro do álcool, para que o cérebro enganasse o paladar. O [café] robusta tinha notas alcoólicas, mas nada de etanol”. Para reforçar seu posicionamento, Moço relembra quando o barista norueguês Tim Wendelboe venceu o Campeonato Mundial de Barismo em 2004 com uma redução de vinho Marsala em sua bebida autoral. “As regras não mudaram desde aquela época. O problema desse regulamento é a margem para interpretação”, criticou.
Nos bastidores
Segundo um dos competidores, a comissão julgadora do Campeonato Brasileiro de Barismo sabia quais eram os preparos de cada um dos candidatos durante a fase classificatória. “No primeiro dia estava rolando um boato de que ele [Leo Moço] usou duas substâncias ilegais, a lactose no cappuccino e a fumaça de whisky no outro drink”, disse ele que preferiu não ser identificado. “O juiz penalizou ele por isso [adição da lactose no leite, também proibida na competição], mas não pelo álcool”.
O juiz do campeonato é o mexicano José Cleofas, representante oficial do WCE. Segundo os competidores, Cleofas entrou em contato com outros membros da comissão julgadora e decidiu pontuar Leo Moço.
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