Bebidas
Premiado enólogo europeu lança no Brasil espumante criado para o casamento de filha
O enólogo João Portugal Ramos é referência mundial quando o assunto é vinho português. Nascido em uma família ligada aos vinhedos há mais de 200 anos, o lisboeta encontrou na região de Estremoz, no Alentejo, o lugar perfeito para começar sua carreira como produtor no início dos anos 90. Mas, antes de vender suas primeiras garrafas e se dedicar totalmente à marca homóloga, trabalhou por quase duas décadas como consultor.
Hoje, a João Portugal Ramos produz anualmente seis milhões de garrafas de cerca de 19 rótulos feitos em quatro regiões de Portugal: Tejo, Beiras, Douro e dos Vinhos Verdes. Em 2018, conquistou o recorde de 15 vinhos acima de 90 pontos em uma das publicações mais respeitadas do mundo, a Wine Advocate Robert Parker.
Os vinhos assinados por Ramos são trazidos ao Brasil pelas importadoras Porto a Porto e Casa Flora. Entre as novidades mais frescas de 2019, o lançamento do primeiro espumante produzido pela JPR, o Marquês de Borba Brut Rosé 2014, que nasceu de uma brincadeira do enólogo para o casamento da filha.
O rótulo foi apresentado durante um almoço harmonizado pelo chef Dudu Sperandio no Ernesto Ristorante na última sexta-feira (12), em Curitiba. Feito a partir do método champenoise (segunda fermentação na garrafa), leva na composição as uvas Pinot Noir, Touriga Nacional e Aragonez. O preço sugerido é de R$ 149.
A seguir, enólogo e produtor comenta sobre as características das regiões portuguesas, a construção do paladar brasileiro como consumidor de vinhos e as expectativas de negócios entre os dois países. Embora o Brasil represente apenas 1% das exportações da marca (um terço fica em Portugal e boa parte vai para o norte da Europa), é um dos países que terá relações mais estreitas com a vinícola ao longo dos próximos anos, garante Ramos.
A maior parte da sua produção fica na região do Alentejo ao sul de Portugal, mas o senhor também tem, desde 2007, uma produção no Douro, ao norte do país. Qual a principal diferença de perfil entre os vinhos produzidos nas duas regiões?
O perfil da região molda completamente o caráter dos vinhos e Portugal tem essa enorme vantagem de ser um país tão pequeno e ter vinhos tão diferenciados. Apesar de haver certa similaridade em relação ao terroir – no Douro é 100% xisto [rochas laminadas que compõem o solo de boa parte do país] e no Alentejo a maioria também – e ao cultivo de algumas castas, os vinhos tem características bem diferentes.
No Alentejo, pode-se fazer vinhos mais fáceis de beber enquanto novos, com taninos mais amáveis, mas é possível fazer ótimos vinhos de guarda também. No Douro, os taninos são mais duros e os grandes vinhos precisam de mais tempo: não são tão amáveis quando novos, embora tenham uma longevidade fantástica.
Ainda sobre diferenças: como o senhor avalia o paladar do brasileiro e o do português em relação ao vinho?
O Brasil começou sua produção há muito pouco tempo. Neste sentido, tem estado desde sempre com uma mente muito mais aberta, pois recebe vinhos do mundo inteiro. Portugal bebe vinho português, ponto. Ainda bem que assim é, porque na França só se bebe vinho francês, na Espanha só vinho espanhol e na Itália só vinho italiano.
Mas o consumidor brasileiro, como qualquer consumidor que se inicia como apreciador de vinhos, terá seu percurso. Esse percurso, já sabemos, passa invariavelmente por vinhos mais fáceis e até doces. É assim que nasce um público consumidor. À medida que for apurando seu gosto e tendo mais conhecimento, vai com certeza conhecer melhores vinhos e vai deixar os mais amáveis, que às vezes são muito massificados, para descobrir outros mais complexos, com mais sabor de vinho e menos de açúcar.
Isto indica que a parcela de exportações da JPR para o Brasil aumentará? Em sua última entrevista ao Bom Gourmet, a representatividade brasileira era de apenas 1%.
E ainda é [risos envergonhados]. Mea culpa, mea culpa. Confesso que dei pouca importância ao mercado brasileiro por muitos anos, mas agora tenho um compromisso com vocês. Nós falamos em Portugal que é uma “piscadinha do rabo da boca” – vimos pouco ao Brasil porque há pouco negócio mas, se viéssemos mais, teríamos motivos para voltar.
O fato é que o Brasil é um destino natural dos vinhos portugueses, muito mais do que os chilenos ou argentinos. O Brasil tem muito mais a ver com Portugal e naturalmente essa aliança vai crescer, porque nossos vinhos são muito bem aceitos.
A julgar pelo espumante rosé (Marquês de Borba Brut Rosé 2014, lançado este mês pela JPR), será um negócio frutífero.
Fiz meu primeiro espumante numa brincadeira para o casamento da minha filha e, veja só, quase toda a produção [seis mil garrafas] veio para o Brasil! É uma bebida agradável e combina com o clima daqui. Não sobrou quase nada para Portugal [risos].
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