Bebidas
Estado da cachaça, Minas Gerais se torna referência em gim
Que a cachaça mineira é famosa em todo o mundo não é novidade para ninguém. Afinal, Minas Gerais é considerado o maior produtor da “branquinha” artesanal do país. Os números comprovam: o Estado é detentor de 50% da produção nacional: dos 25 mil alambiques que existem no Brasil, cerca de 8.500 estão em Minas. Os dados são do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas).
Mas o fato é que, agora, os mineiros também querem e já merecem ser reconhecidos como excelentes produtores de gim. Os exemplares produzidos em Minas de destacam pela personalidade bem marcante. “Temos hoje três marcas já consolidadas, uma delas já despontando para fora, e uma quarta marca chegando – a Volvo. Temos qualidade em todas, o que é o mais importante” avalia o renomado mixologista Filipe Brasil.
Assim, cada produtor procura imprimir um traço próprio ao destilado aromático, acrescentando novos ingredientes ao zimbro – especiaria obrigatória para que a bebida seja batizada de gim. Desta forma, cada rótulo oferece um sabor único e combinações bastante sofisticadas, o que permite ainda mais possibilidades dentro da coquetelaria. “O fato de termos mais marcas de gim disponíveis traz certa versatilidade para a criação de coquetéis”, avalia Filipe Brasil.
O pioneiro
O primeira a se aventurar nessa seara autoral em Minas foi a YVY Destilaria, em 2017, que deu origem logo à uma série de sabores que destacam a essência e os ingredientes de cada um dos biomas brasileiros. Batizado de MAR, o primeiro rótulo a chegar ao mercado é um gim inspirado no estilo London dry clássico. Por aqui, foi intitulado como “brazilian dry gin” com destilação a base de álcool de cana, o que garante o teor alcoólico de 46,6%. Esse mesmo destilado ganhou a categoria “Best Brazilian London Dry”, deste ano, no concurso mundial World Gin Awards, em Londres.
André Sá Fortes, um dos sócios por trás da destilaria, explica que além do zimbro, outros dez ingredientes entram na receita dessa edição, como coentro, cardamomo, noz moscada, limão siciliano – ao todo são dez botânicos em sua composição.
YVY, em Tupi-Guarani significa território, o chão que pisamos. “E o chão que pisamos diz muito da gente, afinal”, relata André Sá. Ele explica ainda que YVY é uma bebida inspirada no Brasil, país de proporções continentais, que possibilita uma infinidade de aromas e combinação de sabores. A destilaria implementou duas novidades neste ano. Entre elas, estão as edições especiais batizadas de YVY Territórios, que homenageiam cada um dos biomas brasileiros com séries limitadas a 700 garrafas.
Já foram lançadas as que homenageiam o Cerrado (com zimbro torrado aos moldes da tradicional torra de café), e o da Mata Atlântica (com banana, abacaxi, cambuci e hibisco).
O Cerrado Mineiro também é a região de produção do gim Zuur, destilado feito em uma fazenda no distrito de Capim Branco, próximo a capital Belo Horizonte. Lançado há seis meses por Rafael Lima, Alberto Scarano e Vinicius Guimarães, o destilado no estilo “London Dry” já fabrica 1.200 garrafas mensalmente. No paladar mais experiente, a bebida conta com a profundidade do zimbro e do cardamomo, enquanto para os iniciantes, o limão capeta e limão siciliano agradam já no primeiro gole. “Nosso grande diferencial é uso da casca de limão capeta na destilação”, explicou Alberto Scarano Mechi.
Em maio desse ano, o Zuur foi eleito o melhor gim da América do Sul pelo guia global “The Gin Guide”. A premiação reforça mais ainda o potencial mineiro na produção do destilado. “Estamos mostrando para o Brasil inteiro que Minas não é só cachaça e que a criatividade e qualidade são uma marca do nosso Estado em qualquer que seja o produto. O mineiro é muito exigente e se não for um produto de alta qualidade não vai emplacar por aqui”, avalia ele.
Gim cervejeiro
De olho neste mercado cada vez mais promissor, a Cervejaria Backer logo investiu no desenvolvimento do Lebbos Hop Gin, lançado em setembro de 2018. Para produzir seu gim, a Backer, que está no mercado cervejeiro desde 1998, decidiu se manter fiel às origens da bebida e usar como ingrediente chave o lúpulo. Isso dá um toque cervejeiro à bebida destilada, que é feita à base de cereais que passam por um processo de infusão com zimbro e outras especiarias como raiz de angélica, canela, cascas de frutas e farinha de amêndoas. O resultado é um gim com teor alcoólico entre 37, 5% e 50%,
“Somos uma cervejaria e está em nosso DNA e de todos os nossos produtos, o uso de ingredientes cervejeiros. Logo, nossa decisão óbvia foi a adição de lúpulo para dar as características herbais e florais de amargor e aroma que gostaríamos”, explicou a diretora da Backer Paula Lebbos.
O produto ganhou no fim de julho deste ano. a medalha de prata na competição International Wine and Spirit Competition (IWSC), concurso que é realizado há 50 anos no Reino Unido. A competição avalia e premia as melhores bebidas por meio de análises sensoriais e análises. no painel de degustação. Neste ano foram quase 3.000 inscrições. “Uma medalha chancela e aprova um produto para o público consumidor que até então não é conhecedor”, acredita Paula.
Jungle: O gim brasileiro com o maior número de premiações internacionais
Outra marca mineira que vem ganhando destaque nacionalmente é a Jungle Gin, criada na Serra da Mantiqueira. A bebida, lançada em outubro de 2017, leva em sua composição uma combinação de sete botânicos, entre eles, anis estrelado, kümmel, pimenta-rosa, canela e manjericão.
Produzido em pequenos lotes, dentro de um processo totalmente artesanal, cada garrafa é engarrafada pelas mãos de seus criadores. No ano passado, o rótulo foi premiado com duas medalhas de ouro no Spirits Selection by Concours Mondial, de Bruxelas, que reconhece os melhores vinhos e destilados do mundo – em 2017, já havia conseguido uma medalha de prata.
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