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Bebidas

Os vinhos médio-plus de Bordeaux

Gazeta do Povo
25/03/2014 19:22
Em sua segunda visita a Curitiba, Jean-Jacques Dubourdieu apresentou cinco vinhos da região de Bordeaux. Foto: Valterci Santos.
Em sua segunda visita a Curitiba, Jean-Jacques Dubourdieu apresentou cinco vinhos da região de Bordeaux. Foto: Valterci Santos.
Quando seu pai é o enólogo Denis Dubourdieu, empresário e pesquisador que revolucionou a produção de vinhos brancos e de sobremesa na França, prosseguir o trabalho dele pode não ser algo simples. O enólogo Jean-Jacques Dubourdieu, 33 anos, e filho de Denis, porém parece se sair muito bem na tarefa.
No dia 19 de março ele esteve em Curitiba para apresentar os vinhos da cave da família Dubourdieu, localizada no pequeno município de Barsac, a 35 km de Bordeaux, uma das regiões mais importantes da produção vinícola mundial.
Em sua segunda visita à capital paranaense – a primeira foi em 2012 – ele participou de um jantar com pratos à base de frutos do mar e carnes no restaurante Trattoria do Victor. A harmonização foi feita com cinco rótulos da vinícola:  Le Rose de Reynon 2011 (rosé), Drapeaux de Floridene (branco e tinto), Chateau Reynon (tinto) e Chateau Cantegril Sauternes (branco). Todos estão disponíveis no Brasil.
A vinícola, fundada em 1794, produz 500 a 600 mil garrafas por ano a partir de uvas Merlot, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Malbec, Petit Verdot além de alguns blends – mistura de tipos de uvas. O objetivo de Jean-Jacques é mostrar aos brasileiros que na França não existem apenas vinhos caríssimos, mas também uma gama ‘média-plus’, como ele a define, que está na faixa de R$ 150 a R$ 250.
Em entrevista com o Bom Gourmet, o enólogo explica o porquê tomar um vinho num restaurante no Brasil custa quase como num restaurante na França.
Você veio a Curitiba em 2012 e agora voltou. Mudou alguma coisa de lá para cá no setor dos vinhos?
A nossa história começa em 2001 quando chegamos ao Brasil com dez caixas. Hoje estamos solidificando a nossa presença e os brasileiros estão aprendendo que na França não existem apenas vinhos caros, mas também uma gama de vinhos de nível médio-plus que nos restaurantes custam na faixa de R$ 150 a R$ 250. E são, portanto, mais acessíveis.
O Brasil representa qual porcentagem das exportações da sua vinícola?
Todos os vinhos franceses juntos representam entre 4% a 5 % do mercado brasileiro. Mas dentro dele temos uma posição importante porque o nosso vinho tem uma ótima relação custo-benefício. Eu pessoalmente passo, todos os anos, pelo menos duas semanas no Brasil viajando para ter um contato direto com os restaurateurs e os profissionais do setor. Isso é muito importante porque o brasileiro gosta de ter uma relação direta com as pessoas.
Era mais fácil fazer negócios quando vocês começaram há mais de dez anos ou hoje?
De um lado, hoje é mais difícil porque os impostos são mais altos. Do outro, os vinhos chilenos e argentinos que representam grande parte do mercado brasileiro têm puxado também os vinhos de outros países, inclusive da França, e têm nos ajudado a entrar no país. Embora chilenos e argentinos sejam nossos concorrentes, de fato estabeleceu-se um trabalho de sinergia com esses produtores.
De que forma os impostos atrapalham as importações nesse segmento?
Nas gôndolas o preço do vinho está lá em cima, mas paradoxalmente nos restaurantes a diferença com a França não é tão gritante. Lá, os restaurateurs trabalham com uma margem de lucro maior, e aqui essa margem é muito pequena. Portanto o cliente paga quase a mesma coisa nos dois países. Mas é evidente que para desenvolver ainda mais o consumo da bebida no Brasil, é preciso baixar os impostos.     
Desde quando você começou a tocar o negócio de família no lugar do seu pai, a produção se manteve fiel à tradição ou você e seu irmão procuraram inovar?
Um pouco dos dois. Respeitamos a tradição que começou com nossos bisavôs e prosseguiu com o meu pai, mas eu e meu irmão Fabrice fazemos um vinho que é da nossa época, com nossas ideias. Aprimoramos sempre as técnicas de envelhecimento e destacamos a importância da sustentabilidade do nosso produto.
Como é feito um vinho sustentável?
Não utilizamos a irrigação, que além de ser proibida em Bordeaux, pode prejudicar o meio ambiente muito rapidamente, como está acontecendo em outros países como Chile e Argentina onde é utilizada maciçamente. Estamos abandonando o uso de pesticidas e, para equilibrar as pegadas de carbono, preservamos uma área de floresta do mesmo tamanho das nossas videiras.
Quais uvas vocês utilizam e quantos rótulos produzem por ano?
Temos cinco vinícolas e ao todo são cerca de 15 rótulos. A nossa produção é de 500 a 600 mil garrafas por ano. A peculiaridade é que metade dela é de vinhos brancos. Somos os únicos a fazer isso na região de Bordeaux, que tradicionalmente é uma área de excelência de vinhos tintos.  A nossa produção ainda é de tipo familiar, mas hoje é aliada às pesquisas desenvolvidas pelo meu pai. Utilizamos uvas Sauvignon Blanc e Muscadelle para os brancos, e Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot e um pitada de Malbec para os tintos.

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