Bebidas
Monges belgas recriam cerveja de quase mil anos após encontrarem receita perdida
Uma cerveja criada há quase mil anos por monges da abadia de Grimbergen, ao norte de Bruxelas, na Bélgica, voltará a ser produzida com base na receita original — perdida há mais de dois séculos. A fórmula medieval foi redescoberta após quatro anos de pesquisas sobre os ingredientes e métodos utilizados, e será fabricada em escala comercial em uma microcervejaria no próprio monastério a partir do ano que vem.
A receita estava escondida em uma coleção de livros guardada praticamente a sete chaves na biblioteca dos monges, salva pela ordem de um grande incêndio provocado por revolucionários franceses em 1798. A antiga cervejaria que funcionava no local também foi destruída.
Segundo o subprior da abadia, padre Karel Stautemas, foi preciso a ajuda de voluntários para ler e decifrar os mais de 300 livros resgatados. Ele é o encarregado da ordem para a implantação da microcervejaria.
“Era tudo em latim e holandês antigos, passamos horas folheando os livros e descobrimos listas de ingredientes para cervejas fabricadas em séculos anteriores, os lúpulos usados, os tipos de barris e garrafas e até mesmo uma lista das cervejas produzidas há séculos”, disse em entrevista ao jornal inglês The Guardian. Ele é um dos 11 cônegos que ainda habitam a abadia.
Apesar de terem à disposição todas as receitas originais, padre Stautemas explicou que não as utilizou completamente. O recém-nomeado mestre cervejeiro da abadia, Marc-Antoine Sochon, afirmou que alguns dos ingredientes fariam a cerveja ter um gosto não muito agradável aos paladares atuais.
“Naquela época, a cerveja comum era um pouco sem gosto, como um pão líquido”, contou ressaltando que a bebida não leva alguns aditivos mais modernos que dão gosto a ela.
Cerveja medieval
A receita original da cerveja era composta por lúpulos fermentados plantados na região e envelhecidos em barris de madeira. A bebida de gosto neutro tinha um teor alcoólico elevado se comparado às atuais – 10,8%.
Como a qualidade dos grãos e os métodos de produção evoluíram muito nos últimos nove séculos, o mestre cervejeiro afirmou que a nova cerveja não será exatamente como a produzida antigamente. Mas, que as descobertas vão inspirar as novas bebidas.
“A microcervejaria será um lugar para combinarmos métodos modernos e inventivos com o antigo patrimônio da cerveja Grimbergen. Estamos empolgados em usar esses livros para trazer de volta as técnicas e ingredientes medievais para criar novas cervejas”, disse.
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O local terá ainda um espaço para visitantes conhecerem a história da abadia e das cervejas produzidas.
Produção em larga escala
A nova cerveja está sendo produzida em parceria com a Carlsberg, que já tem uma linha de cervejas com o nome da abadia, e a Alken-Maes, que a comercializa no mercado belga. A nova microcervejaria terá capacidade para fabricar até 10 mil hectolitros de bebidas por ano (cada hectolitro corresponde a 100 litros), mas as edições especiais poderão ser limitadas a apenas 6 mil litros.
Padre Stautemas explicou que a produção da nova cerveja – e suas variações – terá os lucros direcionados para a manutenção da abadia e dos programas sociais desenvolvidos, mesmo fazendo parte de um grande conglomerado industrial. Para ele, a união comercial só gerou bons resultados à ordem.