Bebidas
Barista colhe cafés de moradores de Curitiba para criar bebida única
Anos depois de os cafés de origem fumegarem em cada cafeteria de Curitiba, o premiado barista Léo Moço põe uma balança de precisão debaixo do braço e cata um saco de ziplock. Ele vai à colheita na Fazenda Café Urbano, que não tem bem um endereço definido: é Curitiba inteira e mais um pouco, chegando à região metropolitana. Qualquer pé de café que esteja na cidade pode entrar no projeto Curitibanus, que o barista lançou em outubro depois da insistência de alguns clientes em provar um lote de café desconhecido que chegou às suas mãos.
Em dezembro de 2014, um amigo lhe entregou 600 gramas de grãos colhidos no próprio quintal. Ele fermentou, torrou, moeu, passou um café. E se surpreendeu: “De uma planta sem manejo comercial saiu um café muito diferente do perfil brasileiro”. A experiência confirmou a opinião barista: não é apenas terroir, variedade da planta ou manejo que define um bom café. Como e quando é feita a colheita e o beneficiamento do fruto ditam os sabores que a bebida apresentará na xícara. “Sem cuidar nem podar a planta produz um café bom”, comenta.
Começou, então, a traçar uma rota de pés urbanos de café por Curitiba, por indicações de amigos, a colher esporadicamente, apenas quando as pessoas ligam para avisar que os frutos estão maduros. Uma delas é Senhorinha Batista, de 71 anos, que tem quatro pés de café desde 2011. Nunca podou ou adubou. Colhe há dois anos, de vez em quando, e plantou porque aprendeu com a mãe a ter um cafeeiro no quintal. “É uma novidade que meu café, plantado de uma maneira tão simples, possa ser usado pelo Léo, que é um expert. Tomara que esse café dê muita sorte para ele no campeonato”, disse.
Quando contam que no século passado tinha-se um pé de café em casa para consumo próprio, ninguém pensaria que atualmente um barista premiado sairia à caça destas plantas para fermentar um café improvável. Em setembro, no Campeonato Brasileiro de Preparo de Café, Léo ficou em terceiro lugar apresentando o Curitibanus, feito com frutos de dez cafeeiros da cidade, sendo dois parte da paisagem da Rua Vicente Machado. O que os jurados do Campeonato Mundial de Baristas em Dublin, em junho, vão provar, ainda é um palpite. “Acredito que o perfil do café que será produzido com esta safra será muito similar ao da colheita anterior”, diz Léo. Ele aposta em um café muito doce, de acidez destacada, em partes porque será fermentado no método natural, uma forma de trazer o ácido tartárico e láctico para a bebida, e de notas florais, com jasmim bem presente, e pouco amargor.
O barista ainda não sabe o tempo ou quantos dias por semana vai se dedicar à colheita minuciosa, mas rápido não será: em uma hora, Léo colheu pouco mais de 1,8 kg de frutos bordô nos galhos de dois cafeeiros do Edifício Haydée, próximo à cafeteria O Barista do Juvevê. Os pés foram plantados após a construção do prédio e Léo calcula que tenham cerca de 15 anos.
A meta é conseguir pelo menos 60 pés em Curitiba e região metropolitana, porque cada planta produz entre dois e quatro quilos por safra – tanto quanto um cafeeiro comercial. O barista vai separar os cafés por lote e organizá-los por perfil de aroma e sabor. Ao final deste processo, fará um blend que vai torrar e treinar em sua máquina Black Eagle Nuova Simonelli, encomendada para se familiarizar com o equipamento usado na competição. Por fim, espera chegar à Europa com um blend sem terroir, mas que ele acredita que pode ser campeão.
Como participar
Até março, Léo Moço colhe os frutos do café para beneficiar e levar ao Mundial. Quem tiver um pé de café em Curitiba ou região metropolitana e quiser contribuir com o projeto pode entrar em contato com o barista pelo e-mail meupedecafe@fazendacafeurbano.com.br.