Bebidas

À procura do terroir perfeito

Gilson Garrett Jr.
14/03/2013 03:24
Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo
O Paraná não é conhecido como um grande produtor de vinhos, mas empresários do setor estão dispostos a mudar esta realidade. Nos últimos anos passaram a investir em pesquisas para encontrar as uvas que melhor se adaptam ao solo paranaense, aumentar a qualidade do produto e, é claro, a sua competitividade.
Da região metropolitana de Curitiba (RMC) até a região de Toledo, no oeste do Estado, a descoberta do tão sonhado terroir ideal (combinação do solo, clima e a forma de cultivo) passou a ser acompanhada mais de perto por enólogos e agrônomos. Até agora, as variações candidatas ao posto de uva do Paraná são cabernet sauvignon, merlot, chardonnay, cabernet franc, viognier, syrah e pinot noir.
Na vinícola Franco Italiano, em Colombo, além da contratação de especialistas foi necessária a troca dos barris por tipos mais sofisticados. Atualmente, comercializa 12 rótulos finos entre espumantes, brancos e tintos. Segundo um dos proprietários, Fernando Camargo, as uvas que mais se adaptaram ao terroir de Araucária foram a syrah e a viognier. “O que mais me impressiona no syrah é a característica do Velho Mundo, com toque de defumado e tabaco,” afirma.
Uma das explicações para essa característica é o solo calcário de Campo Largo, também na RMC. A Franco Italiano tem vinhedos em Colombo, mas boa parte das uvas são provenientes de Campo Largo. Da mesma forma atua a vinícola Araucária, de São José dos Pinhais. As duas produtoras fazem experimentos de variedades e compram outros tipos de uva de produtores campolarguenses. As vinícolas compartilham também equipamentos para a produção dos rótulos.
A Araucária começou os estudos em 2007 e lançou neste ano seus dois primeiros rótulos finos: o espumante Poty (R$ 59) e o tinto cabernet sauvignon Agustifólia (R$ 49). Cada um deles teve um envasamento de cinco mil garrafas. Segundo Renato Adur, um dos proprietários, a vinícola foi projetada para produzir 40 mil garrafas por ano. “Nossa expectativa é que em 2017 estaremos em capacidade máxima,” diz. Ainda segundo ele, a RMC é, em média, 5 graus C mais fria que Curitiba, o que ajuda a vinicultura.
Quem também faz experimentos em Campo Largo é o Grupo Famiglia Zanlorenzi, dona das marcas Campo Largo e Lunar. Há dois anos a empresa começou os testes com as uvas chardonnay, cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc. Por enquanto, os rótulos do grupo são feitos com uvas do Rio Grande do Sul. “Hoje os vinhedos do Paraná representam 2% do bolo do grupo e só produzem suco de uva. Nossa meta é que em 2016 este número chegue a 15%,” afirma diretor-presidente Giorgio Zanlorenzi. Ainda segundo ele, o clima paranaense é muito parecido com o da Serra Gaúcha. “Com esses experimentos temos resultados iguais ou superiores ao da Serra. Com um trabalho bem planejado, não vejo dificuldade em concorrer”, afirma.
No Oeste
Quase na fronteira com o Paraguai, a vinícola Dezem descobriu o terroir de Toledo há quase 15 anos. A diretora da empresa, Susan Russ Dezem, lembra que foram seis anos de testes até que em 2005 lançaram o primeiro rótulo. Ela explica que diferentemente da RMC, no oeste o solo é argiloso e vermelho, o que auxilia no aroma e sabor mais complexo do vinho. “Dentre as vantagens estão o clima bem definido, as 14 horas de luminosidade e verão não muito chuvoso. As uvas chardonnay e malvasia foram as que melhor se adaptaram,” afirma. A Dezem produz 50 mil litros de vinhos e 15 mil de espumante anualmente, com 12 rótulos distintos. “Nossa perspectiva é em quatro anos produzir 100 mil litros.”

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