É possível levar o sabor do pão caseiro para a linha de produção diária da padaria? A engenheira e empresária Ana Klein dedica a sua vida para provar que sim. Engenheira de alimentos, no fim da década de 1990 ela resolveu resgatar os processos de fermentação lenta e os fermentos caseiros. A busca era pelo sabor do pão que comia na infância. Descobriu os segredos e tempos de bactérias e leveduras que fazem a mágica da panificação. Combinou tradição a tecnologia, criou a Barbarella Bakery.

O nome é inspirado na heroína de ficção científica do fim dos anos 1960. A personagem, criada pelo francês Jean-Claude Forest para os quadrinhos e interpretada no cinema por Jane Fonda, mistura as cores da época, com um olhar futurista e uma narrativa ousada. E qual personagem poderia traduzir melhor essa padaria de levains, métodos lentos e pães que duram dias e dias refrigerados?

"Barbarella é um filme futurista e, ao mesmo tempo, antigo. É a engenharia com o artesanal", diz Ana, ao tentar resumir o motivo da escolha do nome e como a heroína símbolo da sua padaria se conecta ao seu modo de fazer pão. "Lembra da maçã da Apple? Se o Steve Jobs colocou uma maçã mordida no meio da tecnologia, então eu vou colocar uma heroína espacial e feminina numa padaria, por quê não?"

A decoração da Barbarella também é a tradução dessa combinação de futuro e passado. O espaço lembra os diners norte-americanos dos anos 1960, mas olhando para o futuro a partir dos nossos tempos. O que vem do balcão, no entanto, é pura nostalgia.

Preparado pelo método fermente, o pão francês da Barbarella tem o cheirinho de antigamente. É o aroma do ácido acético resultante da fermentação lenta. O processo dura 36 horas e transforma o etanol da fermentação em vinagre.

"Nosso carro chefe é o pão fracês. É ele que nos diferencia. Porque os padeiros foram buscar o croissant e o levain. Mas eles não buscaram o pão francês preparado à fermente, que dá a ele um sabor sutil e ao mesmo tempo complexo. É uma complexidade delicada que valoriza os complementos desse pão, o queijo, a manteiga, o presunto", comenta a empresária padeira.

Os pão francês da Barbarella, assim como a baguete preparada com levain, é resultado do trabalho de graduação final do curso de engenharia de alimentos de Ana. O resgate dos métodos ancestrais de fermentação - realizado muito antes do sourdouch virar moda por aqui - deram a Ana o prêmio de engenheira do ano do Rio Grande do Sul em 2001.

Também foi esse trabalho a semente da Barbarella. A padaria com nome de heroína integaláctica nasceu no começo de 2002. Oito anos depois de abrir a primeira das seis casas em Porto Alegre, Ana voltou à universidade para fazer outro resgate: o pão quentinho na mesa do café da manhã. Criou então um sistema de armazenamento e refrigeração que conserva os pães sem qualquer aditivo químico.

Da geladeira, os pães da Barbarella vão direto ao forno quente. E, em três minutos, o sonho de todo esfomeado matutino se realiza: pão quente e crocante para acompanhar a xícara de café e começar bem o dia.

A gestação da Barbarella em Curitiba, por sua vez, também foi longa. Os planos de abrir a primeira filial fora de Porto Alegre começaram em 2017, mas a ideia só saiu do papel no fim de 2021. Ana apostou alto na cidade: trouxe a vida para. Transformou Curitiba no laboratório para o novo projeto da sua padaria com nome de heroína.

A empresária, filha de industrais gaúchos, prepara a Barbarella agora para virar franquia. A meta é levar essa promessa de um futuro bom e saboroso para o resto do Brasil - ou mesmo do mundo.

"Desde que eu estava com as primeiras bácias de fermento, eu já pensava nisso, em expansão. Eu fecho os olhos e enxergo ela maior, universal. Ela é cosmopolita. Mas tem que ser passo a passo para não perder a essência."

Barbarella Bakery. R. Comendador Araújo, 795 . Abre de segunda a sexta, das 7h às 22h, e sábado, domingo e feriados, das 8h às 22h, com serviço presencial (estacionamento gratuito disponível) e delivery através do iFood ou no app próprio. Mais informações: (41) 3076-0167  @barbarellabakerycwb