Bom Gourmet
Bar mais antigo do Paraná, Stuart encerra atividades
Porta fechando e lágrimas caindo diante de um cenário triste como um copo quebrado. O Stuart, o bar mais antigo do Paraná, o segundo do Brasil, e um dos mais tradicionais da Curitiba, encerrou um ciclo de 119 anos na última segunda-feira (04). A esquina da Praça Osório com Alameda Cabral, no Centro, ponto de encontro de curitibanos famosos ou anônimos, ficou silenciosa. A expectativa é de que o local venha a ser reaberto no primeiro semestre de 2024 com novos donos.
Aos clientes que passam na frente do Stuart, olhares curiosos e desconfiados para dentro do bar. Com as portas e garrafas de bebida fechadas, o clima é de apreensão quanto ao futuro. Será que o Stuart vai perder sua identidade? Os quadros que comprovam a linha história de Curitiba e personagens folclóricos serão retirados?
O cardápio com pratos marcantes como testículos de touro, a carne de rã, o rabo de jacaré irão acabar? E o Jorge, mais conhecido como Alemão, garçom das antigas que tira o chope na régua, foi demitido? Perguntas que pairam no ar…
Os questionamentos acima devem permanecer ainda nos próximos dias, pois não se divulgou oficialmente quem vai “tocar” o negócio. Especula-se que uma rede com bares em Curitiba tenha realizado o negócio. O Stuart Bar chegou a estar à venda em 2018, naquela época por Nelson Ferri, que cobrou R$ 1,1 milhão. Ninguém comprou. Nelson Ferri morreu três anos depois, após perder uma luta contra o câncer.
A história do Bar Stuart
Em 1904, na Rua Comendador Araújo, Joseph Richter e o casal Stuart (origem do nome do bar), fundam o Bar e Confeitaria Stuart. Levava também o nome de confeitaria, pois o estabelecimento vendia doces, salgadinhos e sorvetes. Tinha como funcionários os irmãos Afonso e Leopoldo Mehl.
Em 1934, os irmãos Mehl compraram o Stuart, e passou a funcionar na esquina das Ruas Voluntários da Pátria e XV de Novembro, na Boca Maldita. Na década de 1950, o dono do prédio em que o bar estava alocado, Artur Hauer, decidiu por demolir o edíficio. Constâncio Bocardin, outro comerciante da região, faz aos irmãos Mehl a proposta de ceder a eles o seu ponto, onde ficava uma farmácia.
Os Mehl aceitaram a proposta em 1954, e o bar se transferiu para o local onde está até hoje, em frente à Praça Osório, esquina com a Alameda Cabral. Três anos depois, em 1957, o prédio que estava sendo construído no antigo lugar do bar ficou pronto, e o proprietário convidou os irmãos a voltarem para lá.
Eles não entraram em consenso, e a sociedade entre os irmãos foi desfeita. Afonso ficou com o Bar Stuart e Leopoldo abriu a Confeitaria Iguaçu.
Alguns anos depois, Afonso passou o Bar Stuart para seu cunhado, Ronald Abrão, o “Ligeirinho”, que já havia trabalhado no Stuart quando adolescente. Ligeirinho foi um dos ícones dos bares curitibanos, começou com a tradição de realizar sorteios diários de rifas valendo algum animal, como um leitão, peru e frango aos clientes na mesa. “Vai rodar a rifa”, gritava animado no tempo em que se anotava tudo no papel e uma boa caneta que ficava no avental.
Ligeirinho saiu da sociedade para montar o próprio comércio, e Dino ficou no comando até 2008, quando Nelson Ferri assumiu. Com uma simpatia peculiar, Ferri retomou eventos aos sábados no Stuart, atraindo novos clientes e turistas.
Mas Ferri veio a falecer em abril de 2021.
Mas Ferri veio a falecer em abril de 2021.
No posto, assumiu o Carlos, filho de Nelson Ferri, que contou com a colaboração de expoentes da boêmia e da boa conversa.
Personagens famosos
O Bar Stuart foi ponto de apuração jornalística. A notícia muitas das vezes estava ali, no meio de uma porção ou outra, jornalistas saiam dali com uma bomba. O bar também recebeu políticos como Roberto Requião, Jaime Lernee, o governador Ratinho Junior e o pai Ratinho, o atual presidente Lula, ex- jogadores de futebol, como Romário e o saudoso Sicupira.
Artistas, como o poeta curitibano Paulo Leminski, eram frequentadores assíduos do Stuart. Leminski tinsua mesa habitual onde costumava se sentar, à entrada do bar, e escrever suas poesias com papel, caneta e um copo de vodca.
Bar Stuart, um patrimônio paranaense de 119 anos. Como diria Leminski em suas passagens pelo recinto, “ O Rio é o Mar, Curitiba, o bar”. Que a porta fechada venha a ser apenas um até breve. Já sentimos saudade!