Bom Gourmet
Acarajé e arroz da hauça: ancestralidade subiu ao palco do Mesa São Paulo 2022
Ancestralidade e cozinha são dois assuntos que andam de mãos dadas. Não à toa, foi esse o tema do primeiro dia do Mesa São Paulo 2022. O evento, realizado no último mês, é o principal congresso de gastronomia da América Latina.
Neste ano, o Mesa São Paulo teve como tema "A Cozinha do Abraço". Para começar a conversa, a chef Bel Coelho, dos restaurantes Cuia e Clandestino, subiu ao palco montado o Memorial da América Latina para falar sobre acarajé. Bel e Solange Borges - ativista, empreendedora, cozinheira - mostraram a importância do preparo para o sustento das mulheres do Candomblé.

“Não dá para falar de atualidade sem falar de ancestralidade”, disse a chef Solange. Ela é de Pinhão Manso, comunidade do município baiano de Camaçari. Lá, Solange toca o projeto “Culinária de Terreiro” para exaltar e conscientizar sobre a existência de alimentos sagrados na nossa cultura alimentar.
Desse tabuleiro de ancestralidade e fé, saem preparos como o acarajé. Como bem lembrou Bel Coelho, esse bolinho de feijão frito no óleo de dendê foi a primeira comida de rua autêntica do Brasil.
Essa não seria a única apresentação a tratar das raízes da nossa culinária. Para contar causos e falar sobre mitos de pratos afro-brasileiros foi a vez de Marlene Jesus da Costa e a contadora de história Dona Cici, com o “arroz de hauça”.
Era típico de todo escravo ter uma sacolinha com arroz - que sobrava da exportação - carne seca, peixe ou camarão desidratados. E assim se fazia esse prato, que era uma comida comunitária. “Esse é o arroz de Oxalá, o pai da humanidade”, ensinou Marlene. Dona Cici lembrou que é preciso reverenciar os nossos ancestrais, “não estaríamos aqui se não fossem eles”.
Saindo da história e indo para os dados econômicos, o ex-ministro e secretário de Turismo do São Paulo, Vinícius Lummertz, subiu ao palco e aprensentou o projeto Rotas Gastronômicas. Lummertz explicou como a ação, que divulga pratos e produtos, impacta a economia do local de origem e provou por a mais b os benefícios da gastronomia como protagonista do turismo.
Ancestralidade com abelhas e formigas
O tema da ancestralidade também esteve em outras palestras, como em “Formigas: a comida que guarda os indígenas da Amazônia”, com Elisangela Valle, e “A cozinha ancestral das Américas”, com a chef do Gustu, Marsia Taha, da Bolívia. As abelhas, claro, apareceram também.
No palco, Andrea e Carlos Barrichello, da Beeliving, Eugênio e Márcia Basile, da Mbee Mel de Terroir, Jerônimo Villas-Bôas, do Reenvolver e Juliana Feres, do Heborá. “Devemos consumir mel, com respeito, em prol do nosso país e da biodiversidade”, lembrou Georges Schnyder, diretor da Prazeres da Mesa e um dos organizadores do evento.