Bom Gourmet
Porto Alegre cada vez mais vegana: alimentação à base de vegetais ganha espaço nas feiras e no prato dos gaúchos

Feiras foram reconhecidas como patrimônio cultural imaterial de Porto Alegre | Foto: Laura Tedesco/Bom Gourmet
Porto Alegre vive um movimento crescente de transformação à mesa. A capital dos gaúchos está entre as cidades que mais ampliaram os hábitos de vida vegetarianos e veganos nos últimos anos. Seja por questões de saúde, gosto ou crença pessoal, cada vez mais pessoas buscam alternativas à alimentação tradicional. Elas encontram na cidade uma rede diversa de feiras, restaurantes e produtores locais dispostos a atender essa demanda com sabor e criatividade.
Quem percorre os bairros mais centrais, como o Bom Fim, já percebe esse cenário com clareza: de pratos veganos prontos nas feiras ao ar livre a padarias com produtos sem origem animal. O que antes era nicho agora é tendência consolidada. A alimentação à base de plantas já não se limita ao público vegetariano: atrai quem procura refeições mais leves, sustentáveis e, principalmente, com afeto.
Uma das protagonistas desse novo momento é Gabriela Fontana, 30 anos. Vegetariana e empreendedora, ela criou a marca Verti Goodies, que comercializa produtos como cookies e tortas sem ingredientes de origem animal.
— Como arroz, feijão, salada… comida mesmo. Não sou de comer coisa industrializada — conta Gabriela, que também defende uma alimentação simples e acessível.
A ideia de negócio nasceu em novembro de 2023 e começou com o falafel como carro-chefe. Hoje, cresceu para um cardápio mais amplo, que reflete não apenas as escolhas pessoais da fundadora, mas também a demanda por sabores alternativos no cotidiano das pessoas.
— Uma comida vegana, em sua maior parte, leva os mesmos ingredientes de uma comida não vegana. Só tira algumas coisas e/ou substitui por outras. É realmente entender o que usar no lugar de uma coisa ou de outra — explica.
Gabriela conta que boa parte dos clientes não são veganos: são pessoas em busca de opções diferentes ou mais equilibradas. Esse é um dos sinais mais claros da mudança de mentalidade na capital gaúcha, onde, além de restaurantes com menus adaptados, as feiras ao ar livre vêm ganhando protagonismo como espaço de experimentação e acesso direto a alimentos frescos e preparados com propósito.
— Moro perto do Bom Fim e aqui é uma quantidade absurda de restaurantes e feiras. A exemplo da feira da Redenção, que quase todas as comidas comercializadas prontas são veganas. Acho que Porto Alegre está entrando legal no páreo com opções pra quem quer ser mais saudável — reflete.
Feiras são Patrimônio Cultural Imaterial de Porto Alegre

As Feiras Livres de hortifrutigranjeiros, carnes, derivados de leite, frios, embutidos, entre outras produções locais são consideradas patrimônio cultural imaterial de Porto Alegre. A capital conta com 33 Feiras Modelo e nove Mercadões do Produtor espalhados por diferentes bairros. Juntas, elas comercializam 500 toneladas de produtos por mês e geram cerca de 3 mil empregos diretos e indiretos. As feiras acontecem todos os dias da semana, com produtos que vão de hortaliças orgânicas a refeições prontas, muitas delas pensadas justamente para públicos com restrições ou preferências alimentares específicas.
Para Gabriela, alimentação, saúde e conexão com a cidade caminham juntas. Em paralelo ao empreendedorismo, ela mantém uma rotina de treinos ao ar livre, frequenta parques como a Redenção e a Orla do Guaíba, e vê no estilo de vida saudável uma oportunidade de se conectar consigo mesma — e com os outros.
— Estamos entendendo que doenças e índices de saudabilidade estão ligados à alimentação. Alimentação e esporte estão relacionados, é impossível dissociar um do outro. E alimentação saudável não é necessariamente caro. Arroz, feijão e ovo são alimentos da rotina. Só exigem um pouco mais de esforço no preparo — defende.
Mais do que uma escolha alimentar, o vegetarianismo e o veganismo vêm sendo acompanhados por um modo de vida mais sustentável e consciente. Para Gabriela, esse estilo também abre portas para novos encontros:
— É um grande convite para as pessoas darem a oportunidade. A gente acaba conhecendo muitas pessoas que têm estilo de vida parecido e que também se propõe a conhecer mais a cidade. Ocupar a cidade, conhecer gente e fazer tu te sentir melhor — finaliza.