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Primitivos habitantes do Sul tinham hábito de comer carne de cavalo

Anderson Hartmann, de Porto Alegre, especial para Bom Gourmet
12/12/2018 20:30
PORTO ALEGRE – Cemitérios indígenas encontrados na fronteira revelam artefatos e ossos dos primeiros habitantes do solo gaúcho. Acredita-se que há pelo menos 5 mil anos o Rio Grande do Sul já contava com a presença de tribos indígenas. Para sobreviver, os nativos se alimentavam basicamente da pesca, da caça, da coleta de frutos e da agricultura.
A herança indígena na culinária gaúcha passa pela utilização do feijão, da mandioca, do milho e pelo aproveitamento de plantas nativas como a abóbora, o amendoim, a batata-doce, a erva-mate e o pinhão. Graças ao auxílio de pesquisadores, podemos perceber que as contribuições indígenas na culinária gaúcha são mais marcantes do que se pode imaginar.
Cozido leva em sua receita mandioca, batata-doce, abóbora, além de outros legumes e<br>verduras, tudo isso adicionado a diversos tipos de carnes. Foto: divulgação
Cozido leva em sua receita mandioca, batata-doce, abóbora, além de outros legumes e
verduras, tudo isso adicionado a diversos tipos de carnes. Foto: divulgação
De acordo com o pesquisador Carlos Castillo, em seus arranchamentos os índios faziam cozidos com a carne abatida. O couro bovino era estaqueado a meia altura, servindo de panela. Dentro eram misturados, com água, milho, mandioca, abóbora e nacos de carnes variadas. Por baixo, o fogo carbonizava o couro, que não se rompia e proporcionava um primitivo, mas eficiente, panelão descartável. No moquém (grelha de varas), eram defumados ou assados a caça e o pescado. Essas populações apreciavam a carne de potros e produziam a paçoca de carne e de peixe amassada no pilão.
As informações que se tem dos indígenas no Rio Grande do Sul são baseadas nos relatos dos europeus, que após chegarem ao solo gaúcho, descreveram as tribos. Portanto, pouco se sabe como viviam esses nativos antes da chegada do homem branco. A maioria dos historiadores, assim como Moacyr Flores, divide os primeiros habitantes do estado sul-brasileiro em três principais grupos: os Jês, os Guaranis e os Pampianos.
Primitivos habitantes do Rio Grande do Sul tinham hábito de comer carne de cavalo. Foto: Bigstock
Primitivos habitantes do Rio Grande do Sul tinham hábito de comer carne de cavalo. Foto: Bigstock
Os índios do grupo Jê localizavam-se ao norte e nordeste do Rio Grande do Sul e sua
alimentação era baseada em uma agricultura rudimentar, cultivando milho, mandioca, abóbora e batata doce. A caçada era realizada em grupo e com território marcado, matavam apenas os machos e, a cada dois anos, alteravam o local da caça – tudo isso para evitar a extinção das espécies. Cada aldeia tinha o seu pinheiral e o casal realizava a coleta do pinhão para transformá-lo em farinha.
O centro do Estado era ocupado pelo grupo dos Guaranis, que cultivavam uma agricultura especializada, com milho, mandioca, feijão, abóbora, batata doce e amendoim. Consumiam farinha de mandioca em forma de sopas e mingaus. Coletavam frutos de plantas nativas e caçavam animais – um costume era o caçador repartir a carne com os demais membros da tribo.
Os guaranis preparavam a carne em um buraco no chão, forrado com folhas verdes, em cima a carne, mais folhas – tudo isso coberto por uma camada de terra e o fogo. Como não havia sal, os vegetais serviam como tempero. Com o passar do tempo, os índios colocavam a carne envolvida por folhas de vegetais e uma camada de barro batido. Com o calor, o material endurecia e depois era só quebrar, retirar e temperar com as cinzas (outra artimanha para driblar a falta de sal). Os Guaranis optavam pela utilização de árvores como a pitangueira – a fim de adicionar um bom sabor à carne.
Após a chegada dos espanhóis e portugueses, difundiu-se o sistema de assar carne nas brasas ou labaredas, com espetos e salmoura, mas foi nas revoluções que surgiu o hábito de cortar um pedaço da carne e levar apressadamente ao fogo, o que deu origem ao tão tradicional churrasco. Além disso, também coletavam as folhas de uma planta nativa, para extrair o “caá” (erva-mate) e preparar o “caá-y” (água da erva), mais tarde o típico chimarrão gaúcho, que servia como alimento e estimulante.
Na região da campanha, viviam os Pampianos. Como não se dedicavam ao cultivo de plantas, eram muito habilidosos na caça de aves aquáticas e coleta de frutos e mel. Com a introdução do gado no estado, a partir do ano de 1634, alterou-se muito o cotidiano desse grupo, que passou a se alimentar do gado – vacas e cavalos – que era levado ao fogo com couro e ficava mal assado.
Graças a todas essas contribuições, podemos dizer que é enorme a herança indígena na culinária sul-rio-grandense. Em função disso, muitos destes elementos foram absorvidos como inovadores pelos colonizadores do Rio Grande do Sul. Mas uma coisa é certa: os alimentos cultivados originalmente pelos indígenas rio-grandenses desenham muito bem o perfil da autêntica gastronomia gaúcha – adepta ao cultivo artesanal e à simplicidade no preparo da comida.
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