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Produtos & Ingredientes

Oi, sumido! Polvo brasileiro está em falta em restaurantes e peixarias

Talita Boros Voitch, com colaboração de Juliana Gomes
22/11/2017 20:57
O polvo nacional desapareceu do mercado. Em Curitiba, como em outras cidades brasileiras, está difícil encontrar o produto nas bancas de pescado do Mercado Municipal e nos cardápios dos restaurantes tradicionais de frutos do mar. É o caso da rede de restaurantes Bar do Victor, que parou de servir o molusco em todas as cinco unidades da capital por falta do produto nacional no mercado.
Chico Urban, proprietário da rede, afirma que a falta de polvo tem gerado muitos transtornos. “Nós temos uma clientela acostumada e que aprecia muito comer esse produto conosco. Como os pratos continuam no cardápio, tem gente que não entende que a falta está no mar e que não é um problema do restaurante”, diz.
O polvo grelhado com batatas assadas do Bobardí. (Foto: Divulgação)
O polvo grelhado com batatas assadas do Bobardí. (Foto: Divulgação)
A crise do polvo brasileiro já dura meses e não tem apenas uma explicação. Há menos de 10 anos, o molusco caiu no gosto dos comensais e chefs e seu uso foi popularizado. Se antes muitas pessoas nunca tinham experimentado um prato com a iguaria, há alguns anos o polvo saiu dos restaurante ibéricos e japoneses para outros tipos de estabelecimento.
Outra razão é a pesca predatória. Apesar de existirem leis que proíbem a pesca de fêmeas no período reprodutivo, limitam o licenciamento de embarcações e estabelecem tamanhos e profundidade mínima para a pesca, há pouca fiscalização. As regiões brasileiras onde os polvos se reproduzem são principalmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O restaurante Nomade, localizado no hotel Nomaa, venceu a categoria peixes/frutos do mar do Prêmio Bom Gourmet 2016 com o polvo grelhado com couscous marroquino, mas teve que retirar o prato do cardápio no começo desse ano. “Não temos encontrado polvo nacional e eu sou contra a importação de polvo do exterior”, explica o chef Lenin Palhano. “Assim como os chefs, o cliente também tem que entender que não dá para ter ingredientes sazonais o ano inteiro. Isso vale também para o camarão rosa e o robalo. Não devemos ser coniventes com a pesca predatória”, afirma.
Polvo com couscous, vencedor do Prêmio Bom Gourmet 2016, fica como sugestão da casa até fim de outubro. Foto: Divulgação
Polvo com couscous, vencedor do Prêmio Bom Gourmet 2016, fica como sugestão da casa até fim de outubro. Foto: Divulgação

Preço nas alturas

Para não retirar do cardápio um dos carros-chefes  do Bobardí, no Cabral, Sérgio Wahrhaftig, sócio-gerente do restaurante, está utilizando o polvo importado do Chile para suprir a falta do nacional. “O importado tem um carne mais firme e uma textura diferente. Mudamos a forma e o tempo de cozimento do prato por isso. Assumimos a diferença de preço para não repassar a alta para os clientes por enquanto”, diz.
Antes o restaurante pagava cerca de R$ 45 o quilo do polvo nacional. Agora o valor do importado chega a R$ 65. “Como a época do polvo começa agora, esperamos que a produção e o preço retornem. Caso contrário, vamos ter que repassar o valor para cardápio ou diminuir o prato”, diz.
O restaurante Coco Bambu de Curitiba também está com dificuldades de encontrar o polvo nos fornecedores, mas não tirou a iguaria do cardápio. “Há algum tempo está escasso e passamos a pagar mais”, afirma Ranieri Saraiva, sócio-diretor da unidade na capital. Para continuar servindo os preparos com polvo, conta que o restaurante teve que repassar parte do custo ao preço final dos pratos. “De outra forma, não conseguiríamos mantê-los no cardápio.”
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Cadê o polvo?

Na peixaria Pescados São José, no Mercado Municipal, não tem polvo nacional para vender há pelo menos seis meses. Kielvim Alberti, dono da loja, diz que não há previsão para a chegada do produto. “Hoje o carregamento de polvo vai direto para Rio e São Paulo, onde pagam mais. Aqui só mesmo o importado”, diz. O quilo do polvo importado limpo na São José está R$ 95 e R$ 120 só os tentáculos.
Na Peixaria Keli Mozer, também no Municipal, até tem polvo nacional para vender a R$ 70 o quilo, mas menor e de qualidade inferior ao importado vindo do Chile, Peru ou Espanha, que sai por R$ 90. “Desde o final do ano passado a safra já veio abaixo do esperado. Temos que aguardar a nova para ver como vai ser”, afirma Paulo Mozer, um dos donos.

Florianópolis também sofre

Na capital de Santa Catarina a situação é parecida. Há dois anos, relatam os donos das peixarias, o quilo custava R$ 35; hoje em média sai por R$ 85. Na Peixaria Guimarães, no Mercado Público de Florianópolis, o quilo do polvo aumentou 200% em relação ao ano passado. “Já não tem mais polvo como tinha antes. Pescaram muito. Tem peixaria que já tá tendo que importar do Chile”, diz o dono, Manuel Guimarães. Em geral, o polvo que se come em Santa Catarina é pescado em alto mar, na região de Itajaí.

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