Conheça Ronaldo Cruz e suas 200 facas

Nos anos 80, o personagem Rambo brilhava nos cinemas munido de uma emblemática faca de sobrevivência — lâmina de inox, 25 centímetros de comprimento, 5 de largura. A admiração pelo ícone impulsionou Ronaldo Cruz a tomar coragem e investir 180 dólares em sua primeira faca, a espanhola Aitor Jungle King 2, modelo muito semelhante àquele usado por Sylvester Stallone.

Na época de estudante, foi necessário juntar 1 ano de salário e barganhar com o vendedor para que ele reservasse o artefato pelo longo período. “A cada 10 dias eu ia na loja pedir para o vendedor esconder, porque só tinha uma”, relembra Ronaldo, coordenador dos cursos de Recursos Humanos e Processos Gerenciais na Opet, e naturalmente consultor para assuntos de afiação de facas.

Ronaldo estima ter mais de 200 facas, 40 canivetes e 4 espadas, algumas herdadas do pai, Arioswaldo Cruz (74), hoje um militar aposentado que se aventura na confecção de facas. “Sempre tinha um canivete, uma faca ali rodando pela casa”, rememora Ronaldo. Para evitar adversidades, o pai lhe mostrava as lâminas e o ensinava a manuseá-las — o suficiente para deixá-lo encantado ainda na infância.

30 anos mais tarde, ele reúne uma vasta coleção que contém facas artesanais, de combate, feitas com chifres de alces e veados europeus, mas também modelos mais simples, sem valor comercial, como brindes de empresas dos anos 70. A peça mais cara é americana, produzida no Japão, e custou 600 dólares — a Tanto San Mai, garante Ronaldo, “tem um aço de primeira linha e atravessa até porta de carro”.

A paixão pela cutelaria, que passou de pai para filho, hoje vive a terceira geração. Quando a filha de Ronaldo nasceu, ele mandou fazer um alfinete em ouro no formato de sua faca favorita, a Aitor Bowie, que andou com a pequena de lá para cá durante os primeiros anos de vida. Hoje, com apenas 10 anos, Giulia já começou sua própria coleção. “Minha filha já tem 6 facas, com uma cara mais infantil, coloridas”, comenta o pai.

Nem todas as facas são intocáveis. Na casa de Ronaldo, que é gaúcho, domingo é dia de churrasco. O Bom Gourmet então consultou Ronaldo para esclarecer dúvidas frequentes relacionadas à afiação de facas — para além do zelo, o cuidado com as lâminas deve ser parte da rotina de quem lida com a cozinha.

De quanto em quanto tempo devo afiar minha faca?
Depende do uso. Profissionais que trabalham com a ferramenta precisam afiá-la uma vez por semana, mas para quem só faz um churrasquinho no domingo, o ideal é afiar uma vez por mês.

Como aumentar a vida útil do fio?
A dica é fazer o uso e o armazenamento correto das peças. Toda faca deve ser usada em uma superfície mais maleável do que ela própria, como madeira ou plástico. Vidro ou porcelana, jamais! Quando lavá-las, é importante usar o lado mais suave da esponja. Quanto ao armazenamento, se a faca tiver uma bainha, excelente; caso contrário, envolva-a em qualquer material que não faça com que ela se choque com outras facas. Um papelão dobrado, por exemplo, pode resolver.

Como saber a hora de afiar?
Você pode fazer dois testes simples: tente cortar a fina casca de um tomate. Se conseguir cortá-la só com o peso da faca, sem fazer força, ela está afiada. Caso contrário, é hora de afiar. Você também pode testar com uma folha de papel. Se a faca deslizar no corte, bem precisa, ela está afiada.

É possível afiar facas de mesa?
Sim! Facas de serra e de pão podem ser afiadas na chaira, mas não na pedra.

É possível afiar facas de cerâmica?
Algumas empresas que produzem facas de cerâmica oferecem o serviço, mas em casa não é possível afiá-las.

Como escolher a pedra de afiação?
Você não precisa investir muito dinheiro para comprar uma pedra eficiente. O essencial é que ela tenha dois lados, um mais grosso, para abrir o fio, e outro mais fino, para dar o acabamento.